quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Entrevista: Graciele Aguiar

novembro 03, 2010 | por Cid Costa Neto

Graciele (45) é fotógrafa de casamento. Nasceu em Divinópolis e mudou-se para Belo Horizonte para estudar Psicologia há 26 anos. Formou e especializou-se em terapia de casal. Há dois anos, decidiu vender a empresa de eventos e cerimonial, para dedicar-se a fotografia de casamento.

Como foi o seu primeiro contato com a fotografia?

Minha família sempre teve maquinas de boa qualidade e eu sempre fazia fotos e cobrava um rolo de filme como pagamento, das amigas que pediam.

Enquanto tive buffet, precisava fotografar os doces, os bolos, a equipe e sempre procurei ter bons materiais, amadores, mas de qualidade.

Há muitos anos, aqui em Belo Horizonte, começou a ter sites que cobravam R$150,00 e mandavam dois fotógrafos com saboneteiras fotografar as festas e entregar o CD no final e postavam em 24 horas as fotos nos sites. Isso era ótimo para minha empresa de eventos. Mas como eles chegavam em cima da hora, resolvi comprar uma maquina igual a deles e durante algumas festas, fotografava a decoração, os detalhes e dava a memória para eles levarem e postarem.

Aí a ficha caiu: “Pra quê preciso pagar, se eu mesma posso fazer este trabalho?” Era uma Sony 5.0. Meses depois comprei a DSC-R1, também da Sony, muito boa e comecei a fazer fotos só com o flash da máquina, nada do externo, pois iria fazer um casamento super chique, de uma cliente que transformou-se em amiga em novembro de 2006. Era uma cliente, que conheci no Orkut e que fizemos grande amizade. Juntamos numa mesa grande uma turma maravilhosa, que denominamos “Noivinhas de 2006”.

Quando e como decidiu tornar-se profissional na área?

Quando vi que, por não ser a fotógrafa oficial e ter que me virar para conseguir boas fotos, acabava por fazer fotos diferentes, me possibilitando mais liberdade para criar. Com estas fotos, comecei a montar meu primeiro portifólio.

Já havia feito apenas um álbum antes, a convite da cliente, na semana do casamento, em abril de 2007. A noiva não estava sentindo confiança no serviço contratado e como eu ia fazer o buffet e o cerimonial, fiz um álbum simples, 20x30, que ela ficou tão satisfeita que, podem não acreditar, depois de ver as provinhas da empresa, ficou só com as provinhas, deixou pra lá e nem mandou fazer o álbum 24x30 pelo qual pagou.

Montei o primeiro portifólio grandão, 30x40, de uma cliente que casou-se em junho de 2007, a Denise. Quando ela foi um mês depois fazer o acerto com o buffet, ele [o álbum] já estava pronto e eu com um contrato na mão, para pedir autorização para uso da imagem dela e poder mostrar o álbum. Ela que nem havia pego ainda as fotos de amostra com o fotógrafo, na hora disse: “Imagina, ficou lindo. Quanto você quer que eu compro?” No momento que ela estava lá, chegou a minha noivinha de julho de 2007, a Dani Raquel, duas semanas após o casamento e como também as fotos haviam ficado lindas, havia preparado outro álbum e outro contrato.

Me lembro que ela viu o da Denise e ficou maravilhada. E falou: “Nossa, minhas fotos no Flick que você fez ficaram jóias, todo mundo comentou. Vai demorar tanto ainda para que eu receba meu álbum.”

Despedi da primeira noiva, sentei-me com ela e peguei o álbum que fiz e disse perante aos olhos arregalados e boquiaberta dela perguntando o que era aquilo: “Calma, quero só a sua autorização”. Ela faltou chorar de emoção, ligou pro marido enlouquecida, agarrou-se ao álbum igual criança e disse: “imagina, deixar aqui este álbum maravilhoso, quanto é, pode parcelar?” Eu fiquei boquiaberta, pois não foi minha intenção forçar venda alguma, só queria ter material para começar a vender álbuns e não só CD.

No caso dela, ela nem sabia que ia ter a maior dor de cabeça do mundo com as fotos [as oficiais], pois sei lá porque motivo, as fotos foram feitas com uma qualidade muito a desejar, com pouco empenho e acabou que fez só o álbum da igreja, making of, externas e ficou com o meu que registrava descontraidamente a festa.

Nesta hora vi que estava na direção certa mesmo, fiz correndo um álbum com o resumo de uns seis casamentos e passei a mostrá-lo e as pessoas comentando que era diferente meu trabalho, pois eram fotos informais, descontraídas. Na verdade, eram fotos feitas quando davam para serem feitas, quando o fotógrafo oficial não estava por perto ou eu fazia numa posição diferente...

E disparei em agosto a fazer vários cursos, na Techimage, do Leandro Nunes, que na época era sócio do Vinícios Mattos. Fiz uns dez ao todo, no segundo semestre de 2007. Mas nunca que eu pensava em largar minha empresa de eventos que tinha há 12 anos na época.

Você é psicóloga com especialização em terapia de casal. Qual a influência dessa formação no seu trabalho como fotógrafa de casamento?

Sempre fui mediadora mesmo dentro do buffet, entre sogras, mães, filhos e palpiteiros de fora. Sempre lidei com conflitos entre debutante e pais, pois é estressante o que se deseja, o que se pode e o que se concorda.

Então, não só por ter sido terapeuta de casais, mas por ter mediado durante anos, situações que vocês não podem imaginar. Como fotógrafa, converso sempre com os noivos antes do casamento e até parece discurso decorado, pois 90% passam pelas mesmas situações.

No seu dia a dia como profissional, o que te deixa mais realizada?

Acho que é sonhar junto com as noivas, bolarmos idéias, resolver os impasses. No dia do casamento, eu vibro com os acontecimentos, como se fosse a irmã mais velha. Sinto um misto de tristeza quando entrego por fim, o álbum e vejo que uma noivinha vai-se embora... Como um filho partindo...

E o contrário, o que mais te aborrece?

Noivas que demoram muito a escolher as fotos, como se tudo o que eu tivesse feito, não tivesse tido a menor importância.

Já houve algum acontecimento inusitado em sua carreira?

Há quatro anos, fui contratada como cerimonial de um casal. Estava lá com mais duas pessoas trabalhando. Fiquei então, lá na frente, e o noivo entrou com a mãe, o cortejo aconteceu, mas eu não conseguia entender o que estava errado.

É que eu havia comprado a tal DSC-R1, em novembro de 2006 e resolvi experimentar minha máquina nova neste casamento, pegando alguns ângulos, quando desse.

Mas eu automaticamente, comecei a fotografar lá da frente, depois desci pro corredor e fiz todo o trabalho. Mas nem meu cerimonial nem os noivos sacaram o que estava acontecendo.

Ao final, eles [os noivos] saíram da igreja rumo a festa, com uma das cerimonialistas com eles no carro e a conversa se deu mais ou menos assim:

- Noivo: Olha, deu tudo certo, mas achei que embolou muito La na frente, eu estava ficando do lado e me falaram para ir para o outro, e os padrinhos ficaram confusos se entravam pro lado direito ou esquerdo.

- Cerimonialista: Uai, mas isto não tem lógica, explicamos tudo antes pros padrinhos e lá na frente tinha outra cerimonialista e ela deveria estar mostrando direita, esquerda, como um guarda de transito.

- Noivo: Ela até fazia isto, mas deu embolo dos padrinhos lá na frente e fiquei descontente com isto, isto não poderia acontecer.

- Cerimonialista: Nossa, que chato, como isto pode acontecer? Pera aí, era a própria Graciele quem estava na frente responsável por fazer isto. Como ela pode errar se é a dona, a que mais sabe?

Aí um olhou pro outro e falaram juntos [os noivos]: “o fotógrafo não foi e ela estava fotografando”.

Pois é, o fotógrafo não foi e eu não sabia se fotografava ou fazia sinal pras pessoas entrarem à direita ou a esquerda. Minha mente fotografou literalmente no automático, só consegui sair do transe e entender o que eu estava fazendo, quando a noiva entrou e eu fiz sinal pro noivo ir e fui me aproximando fazendo as fotos e ninguém conseguiu perceber, que o fotografo não apareceu.

Quais fotógrafos cujo trabalho você admira?

Não tenho uma pessoa específica. Gosto de tudo o que vejo, nas pessoas esforçadas, que ficam antenadas para pegar a melhor luz, o melhor ângulo.

Como se mantêm atualizada e qual a importância disso na sua área?

Todo ano vou ao Wending Brasil, em São Paulo, no mês de abril e em agosto vou à feira de fotografia lá também. Este ano fiz três workshops na época do congresso e não fiz mais cursos. Pretendo em janeiro, me dedicar a tratamento de imagens.

Sempre estou navegando em sites de fotógrafos, no Orkut, vendo os olhares, as idéias, e trazendo sempre novidades com isto também, para minhas clientes.

Quais os principais quesitos para se tornar um bom fotografo de casamento e qual a sua sugestão para quem está começando ou pretende iniciar nessa carreira?

Primeiro, é preciso curtir casamento, acho que até mesmo acreditar nele, acreditar que são duas pessoas buscando ser felizes e querendo passar pelo ritual. Segundo, entender de cerimonial, de ritual e saber como cada padre e paróquia agem.

Na igreja de Lourdes, já cronometrei, só consigo fazer umas 17 fotos, do momento que a noiva no altar chega até o padre nos mandar parar de trabalhar.

Se não ficasse antenada, como só podemos depois fazer as fotos da aliança, juramento, assinatura. É preciso ficar muito atento e já combinar coisas com a noiva, pois não dá muito tempo e fazer fotos especiais.

E saber se o padre manda beijar (lá como em 50% das igrejas, eles não mandam e simplesmente a maioria dos padres não finalizam oficialmente o casamento, depois da assinatura, muitos vão lá pra dentro e deixam os noivos sem saber o que fazer. Nesta hora, já sabendo e prevenindo os noivos, já combinamos que faremos fotos rapidinhas no altar, enquanto toca a ultima musica, vão dar um beijo e sair felizes da vida, geralmente sem o padre no altar, coisa que eu não concordo de forma alguma.

Quais são os seus projetos para o futuro como fotógrafa?

Não consigo me imaginar com uma porta aberta, com estúdio montado, funcionários. Talvez seja um futuro a médio prazo que eu tenha que encarar. Mas não penso em futuro. Gosto de fazer ensaios em externas, fotos mais naturais.

Mas, meus três filhos, que já estão na área, tem vitalidade, juventude, ambição e pique para encarar estes desafios maiores e com certeza, vão trilhar caminhos mais voltados para montarem uma empresa de fotografia.

Afinal, através inicialmente da oportunidade que dou aos 3, conseguiram entrar. Mas no mercado, só permanecem os bons. Se eles forem bons mesmo, poderão voar bem alto.

Silvano e Geisiane / Graciele Aguiar Fotografias


Para conhecer o trabalho da fotógrafa Graciele Aguiar, acesse o site:
www.gracieleaguiar.com.br