sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O preço de uma fotografia

dezembro 16, 2011 | por Cid Costa Neto

A fotografia "Rhein II" de Andreas Gursky foi arrematada por 4.3 milhões de dólares em leilão.
Este artigo foi originalmente publicado na Revista FVC de Dezembro.

Em Novembro desse ano, a fotografia intitulada "Rhein II", do fotógrafo alemão Andreas Gursky tornou-se a mais cara da história após ser arrematada por 4.3 milhões de dólares em leilão realizado pela galeria Christie's, em Nova Iorque. Essa notícia gerou diversos protestos e comentários indignados em várias esferas da internet, que criticavam o alto valor pago a uma imagem que teria pouco apelo estético. Chegaram inclusive a cogitar que uma obra de Cartier-Bresson – que foi vendida por muito menos – na verdade deveria valer muito mais. 

David Ross, ex-diretor do Museu Whitney e do Museu de Arte de São Francisco revelou, durante a venda de uma obra de Cindy Shermann, no início do ano – que na época foi vendida por 3,89 milhões de dólares – que o real motivo para a quebra do recorde*, é o fato de dois colecionadores quererem a mesma coisa: 

“O que importa para a maioria dos colecionadores é ganhar. Quando a arte se torna um esporte competitivo, tudo o que se tem que fazer para de vencer é ter coragem e o dinheiro para ir mais longe do que ninguém, e depois, voila, você ganha. E ganhar é muito bom.” 

Ou seja, em muitos casos, o valor de uma fotografia (ou obra de arte em geral) chega a altíssimos valores por uma questão de capricho e duelos de ego. 

Porém, existem diversos critérios que não devem ser ignorados, pois embora ela tenha quebrado o recorde de fotografia mais cara, as estimativas antes do leilão era que ela ficasse entre 2,5 e 3,5 milhões de dólares. Ou seja, o simples capricho de dois colecionadores, não explica o alto valor, pois a cotação já era alta. 

Quando uma fotografia alcança o status de obra de arte ela passa a ser avaliada sob diversos valores que estão relacionados à popularidade do autor, importância histórica, questões estéticas nos âmbitos sensoriais e psicológicos, conceitos, criatividade, técnica, tiragem e originalidade. Sendo esses dois últimos, talvez os aspectos mais importantes, pois a diferença de uma obra original e uma cópia é meramente abstrata e se limita a um certificado de autenticidade. Em termos de mercado, porém, é a diferença entre 4,3 dólares e 4.3 milhões. 

Observem que a foto “Derrière la gare St Lazare” de Bresson, vendida por “apenas” 590 mil dólares, foi uma das duas cópias impressas e emolduradas pelo próprio artista. Embora isso dê alto valor a ela, devemos lembrar que não é a única. Se fosse, seu preço seria ainda muito superior. Devemos então perceber que por trás desses valores há algo muito além do valor estético pois elas agregam signos que lhe permitem um alto valor de venda.

*O auto-retrato de Cindy Shermann na época quebrou o recorde de maior preço já pago por uma fotografia.