domingo, 27 de maio de 2012

Francesca Woodman à sombra da morte

maio 27, 2012 | por Natália Nunes


Desde a primeira vez que vi essa imagem da fotógrafa americana Francesca Woodman, senti um tipo de inquietação que eu não soube localizar, nomear, acompanhada de certa perplexidade, e, ainda hoje, todas as vezes que eu a revejo sou acometida pelas mesmas sensações. Há algo de avassalador nessa foto, pressinto mas não situo, só me espanto. O escrutínio da cena só contribui para aumentar meu estranhamento: cada nova vez que devasso seus detalhes, mais a acho sombria, mórbida, genial, fascinante. 

Eu não entendi imediatamente que, ao fundo, há lápides de túmulos, que Francesca está em um cemitério, enroscada nas raízes de uma árvore que comunga, ao mesmo tempo, dessa aparente água negra da imagem e da profundidade da terra onde na escuridão jazem os mortos. Francesca, nua, pálida, em forte contraste com o cenário acinzentado, parece um cadáver preso nos tentáculos da árvore guardiã dos mortos, trazida pela correnteza do rio e acidentalmente coada pelas raízes projetadas dentro das águas.

Outra leitura possível é feita ao se considerar que seu corpo vivo batalha contra as cadeias vivas da grande árvore, em um esforço para sair de uma posição de ameaça, submissão, imobilidade e morte. 

Entretanto, essas são apenas duas das interpretações que a imagem permite, há várias outras que podem ser exploradas, por exemplo, pode-se considerar os diversos simbolismos da água, sendo o inconsciente um deles. 

Aliás, a morte, a nudez, a solidão, o feminino, a perplexidade, são alguns dos temas - eu diria sugestões - que perpassam por toda a breve e brilhante carreira de Francesca Woodman.