domingo, 20 de maio de 2012

A transcendência de Alison Scarpulla

maio 20, 2012 | por Natália Nunes


Alison Scarpulla, que até hoje não consegui descobrir se é um homem ou uma mulher através de seus portfólios (mas acho que seja uma mulher), é uma das referências que mais gosto no Flickr. Seus trabalhos têm uma aura mágico-mística-mítica, e parecem falar de um tempo e de um espaço antigos, talvez de um século distante, já perdido, ainda pagão, talvez de um sonho enevoado, de um delírio etéreo, epifânico - talvez de uma suspensão no tempo, no espaço, na razão. 

As imagens, como a que abre a postagem, evocam uma atmosfera de transcendência, o homem das suas imagens parece ter conectado, ou procurasse se conectar, com o intangível. Ao mesmo tempo, entretanto, esse homem aparece em grande contato com a natureza, seus elementos e ciclos, em uma espécie de retorno pagão a terra, comungando com a matéria, com seu espírito. 

No seu perfil do Flickr, há uma citação interessante, que introduz de forma misteriosa - mas precisa - a diretriz do seu trabalho:

"A sepultura lhe recebe com amor. Renda-se à Terra. Restitua o lhe foi emprestado. Desista do seu prazer, da sua dor, dos seus amigos, dos seus amores, da sua vida, do seu passado, do que você deseja. Você conhecerá o nada, essa é a única realidade. Não tenha medo, é fácil dar-se. Você não está sozinho, você tem uma sepultura. Ela foi a sua primeira mãe. A sepultura é a porta para o seu renascimento. Agora, você irá entregar o fiel animal que uma vez você chamou de seu corpo. Não tente mantê-lo, lembre-se, ele foi um empréstimo. Renda suas pernas, seu sexo, seus cabelos, seu cérebro, você por completo. Você já não deseja possuir, posse é a dor suprema. A Terra cobre o seu corpo, ela veio para cobri-lo com amor, porque ela é a sua verdadeira carne. Agora, você é um coração aberto, aberto para receber a verdadeira essência da sua perfeição. O seu novo corpo é o universo, a obra de Deus. Você nascerá de novo, você será real, você será o seu próprio pai, sua própria mãe, seu próprio filho, sua própria perfeição. Abra os seus olhos, você é a Terra, você é o verde, você é o azul, você é o Aleph, você é a essência. Olhe para a flor, olhe para a flor, pela primeira vez, olhe para as flores." (Tradução livre).