terça-feira, 19 de março de 2013

A fotografia de cinema na era digital

março 19, 2013 | por Cid Costa Neto


O cinema, em termos técnicos, nada mais é do que fotografia em movimento. Por isso, é imprescindível a participação de um diretor de fotografia na produção de qualquer filme. Ele é o profissional que irá proporcionar a criação da atmosfera adequada à história que será contada, orientando o diretor principal, o diretor de arte e toda a produção em relação aos equipamentos mais adequados a serem utilizados (câmaras, películas, lentes, fresnéis, etc) e a melhor composição para iluminação das cenas.

No mês passado o diretor de fotografia chileno Claudio Miranda ganhou o Oscar por "Life of Pi". Dirigido pelo cineasta taiwanês radicado nos EUA Ang Lee, o filme é baseado no livro de mesmo nome, escrito por Yann Martel e publicado em 2001.

Apesar do prêmio de fotografia, é curioso observarmos, no entanto, que o filme foi rodado quase que na sua totalidade utilizando estúdios com fundo azul e com cenáros digitais que foram adicionais durante a pós-produção. Em alguns casos, como vemos na imagem abaixo, a iluminação é direcionada (possivelmente por um fresnél), para criar sombras e  luz de recorte similares as produzidas pela luz do sol.


Em outras situações, porém, foram utilizadas fontes mais homogeneas, para ter o mínimo de sombra e uma boa definição de todas as áreas, permitindo que, durante a edição, fosse possivel escolher quais partes seriam iluminadas e quais seriam sombreadas, conforme a fonte de luz do cenário digital a ser aplicado. Pode-se perceber isso na cena da tempestade [abaixo], onde é inserida a luz de um raio, criando uma imagem em contra-luz.


É o trabalho do diretor de fotografia fazer essa avaliação e previsão de onde será inserida a luz antes e depois (nos filmes digitais) das filmagens.

Esses aspectos colocam em discussão quais são os limites da técnica fotográfica nos filmes atuais. Onde termina a fotografia e quando começa a manipulação digital? Na semana passada, o diretor de fotografia australiano Christopher Doyle fez duras críticas à premiação de Life of Pi.

"Eu estou tentando achar um jeito de dizer isso educadamente, e sem ofender - Eu não o conheço [Miranda] pessoalmente - mas que pedaço de merda. Deixe-me ser franco. Ah, fodas, eu não me importo. Eu tenho certeza que ele é um cara maravilhoso e tenho certeza que ele se importa, mas, uma vez que 97% das imagens do filme não estiveram sob seu controle, que merda você está falando sobre fotografia de cinema… Eu acho que é a porra de um insulto para a fotografia de cinema.”- disse Doyle ao site Blouin.

Uma boa solução, como sugeriu nosso leitor Sergio Zambrozuski, na nossa página no Facebook, poderia ser criar uma outra categoria voltada para arte digital e "deixar a fotografia para as lentes e o olho humano".