quinta-feira, 16 de maio de 2013

A legitimidade de uma foto e a paranóia da manipulaçao digital

maio 16, 2013 | por Cid Costa Neto

Fotografia premiada foi alvo de suspeitas quanto a sua credibilidade documental

Com o advento e popularização dos dispositivos de criação e edição de imagens digitais, temos testemunhado uma grande transformação na maneira como a imagem fotográfica é vista e por consequência, no seu valor como reprodução do real.

No começo desta semana, uma grande polêmica sacudiu a área do fotojornalismo mundial. Seguindo as supeitas levantadas por fotojornalistas e blogueiros pró-Israel, o especialista (será?) em computação Neal Krawetz publicou em seu blog uma avaliação a respeito da fotografia vencedora do World Press Photo, realizada pelo fotógrafo sueco Paul Hansen.

Com base na avaliação de Krawetz, a imagem seria resultado de uma montagem feita a partir de três arquivos diferentes. Ele também sugeriu a manipulação na maneira como a luz incidia sobre as pessoas que aparecem no cortejo fúnebre da imagem, de modo a clarear o rosto de algumas mais que de outras.

A organização do World Press Photo, no entanto, confirmou a legitimidade da imagem. Diante das suspeitas, o fotógrafo entregou o arquivo RAW e o ficheiro em formato JPEG (que foi visto pelo júri que lhe atribuiu o prémio) para que fossem submetidos à análise de peritos independentes.

"Revisamos o arquivo Raw original e a imagem resultante em formato Jpeg. É evidente que a foto foi retocada no que diz respeito ao tom e à cor de determinadas zonas e em seu conjunto. Além disso, no entanto, não encontramos nenhuma prova de que tenha sido feita uma manipulação relevante da imagem ou uma composição. Além do mais, a análise propondo manipulação é profundamente deficiente." - comunicou a fundação em seu site.

Hansen já havia confirmado que sua manipulação se restringia à edição de tons e balanceamento das luzes, aproveitado o maior alcance dinâmico que o formato de arquivo proporciona, "com a intenção de recriar o que o olho vê". Essa alegação seria suficiente para a organização do evento, não fosse a polêmica criada.

Em outras palavras, o fotógrafo manteve o índice do acontecimento, trabalhando em cima das informações contidas na própria imagem e que estariam ocultas antes da edição. Seriam as alegações de manipulação uma atual tendência a paranóia que envolve a construção de uma imagem ou uma mera tentativa de desmoralização motivada por motivos políticos?

Fontes: G1 e Público