terça-feira, 3 de novembro de 2015

Fotógrafo registra centros de detenção juvenil nos EUA

novembro 03, 2015 | por Adriana Prado

O fotógrafo Richard Ross visitou centenas de instalações e fotografou milhares de menores em prisões juvenis americanas



O que caracteriza um objeto como propriedade de uma galeria e não de uma comunidade? Quem definiu esses limites? É possível a criação de uma arte que ocupe ambos os grupos? Por fim, a arte pode provocar uma mudança real em cada um desses grupos? Não se deve responder nenhuma das perguntas acima de maneira apressada, e nem tentar. O trabalho fotográfico de Richard Ross atreve-se a tratar dessas questões.

Ross é artista e professor, embora, em todos os sentidos, seu trabalho seja moldado e impulsionado pela causa da justiça social. Há muito tempo as imagens (e a prática docente) de Ross fornecem acesso a cenas invisíveis que controlam corpos por meio de disciplina e contenção. Seu trabalho fotográfico de 2007 intitulado Architecture of Authority mostrou escolas, corredores de mesquitas, salas de reuniões das Nações Unidas, celas na Prisão de Abu Ghraib e uma câmera de execução para condenados à pena de morte. As imagens são sombrias, porém impressionantes; as composições e paletas de cor assemelham-se a pinturas.

Enquanto fotografava em um centro de detenção em El Paso para o projeto, Ross perguntou ao diretor se ele já tinha tido tanto êxito a ponto de deixar o trabalho para trás e ouviu o seguinte: “Não enquanto o Texas continuar encarcerando crianças de 10 anos.” Pesquisas posteriores revelaram que crianças a partir dos 7 anos podem ser julgadas como adultos em 22 estados. Ross iniciou sua série Juvenile in Justice (e depois Girls in Justice) naquele momento e trabalhou nela 4 anos — viajando para centenas de instalações e fotografando milhares de menores — sem publicar uma única foto.

Nos encontros com seus assuntos, cujos rostos não parecem nas fotos finais, Ross procura ser respeitoso e nunca afirmar poder sobre eles. Em vez disso, ele tira os sapatos e senta-se no chão para conversar e fotografar. “Eu lhes concedo autoridade sobre mim,” diz ele. Na maior parte do tempo ele escuta. Essa troca, talvez mais do que qualquer outra coisa, é sinal de uma verdadeira colaboração criativa, social e emocional.

No final das contas, essas trocas assombram Ross. “É impossível deixá-los,” diz ele. “Semana passada conversei com uma menina que tentou o suicídio várias vezes. Ela foi espancada, estuprada, não tinha um lar. Ela soluçava convulsivamente. Como ela precisa de assistência psicológica, é mulher e menor de idade, eu não podia tocá-la. Eu só queria abraçá-la e dizer que tudo ficaria bem. Mas não tenho permissão para isso, e não vai ficar tudo bem.” Esses encontros podem ser emocionalmente desgastantes e despertam um sentimento de impotência, mas Ross, que é um dos poucos canais para suas histórias, não se deixa esmorecer.

A resposta para a pergunta inicial — como podemos medir a possibilidade de impacto da arte nos seres humanos e vice-versa — é impossível de encontrar. Entretanto, o que fica claro é que as fotos de Ross representam corajosos avanços para mudanças por meio da inversão (ou revelação) de sistemas de poder e do retorno dos assuntos ao seu senso de valor e humanidade.



  



 

Para saber mais sobre o projeto de Ross, acesse: richardross.net/juvenile-in-justice.

Fonte: Time