quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Dickey Chapelle: a primeira fotógrafa de guerra americana a morrer em combate

dezembro 09, 2015 | por Ligia

Esta era a fotografia favorita de Dickey Chapelle trabalhando, tirada em Milwaukee em 1985 pelo Marine Master Sgt. Lew Lowery, que também fotografou o primeiro hasteamento da bandeira Americana no Monte Suribachi em Iwo Jima. (Imagens Históricas de Wisconsin).

Em 6 de dezembro de 1956, após a meia-noite, três figuras atravessavam cuidadosamente um campo coberto pela geada na Áustria. Guiados por uma bússola e carregados com um milhão de dólares em penicilina, eles estavam em missão humanitária levando ajuda a refugiados húngaros.

Mas a pessoa do meio – com seus poucos 1,52 m de altura – tinha um propósito adicional. E por ele, ela carregava uma câmera Minox, presa ao corpo por esparadrapo sob sua camisa e seu casaco de lã. A mulher era Dickey Chapelle, uma fotojornalista em missão para a revista Life. Momentos depois, o homem na frente murmurou, “Estou perdido”, e um fogo inimigo apagou a Ursa Maior do céu. Uma metralhadora e três rifles os cercaram, capturando a fotógrafa e seus companheiros.

Chapelle terminou sob custódia da polícia secreta húngara e ficou presa por dois meses, a maior parte do tempo na solitária. Embora abalada pelo incidente, a linha de frente estava em seu sangue. No mesmo ano ela voltou a trabalhar fotografando rebeldes argelinos e no ano seguinte, Fidel Castro.

Soldados fazendo força para colocar uma peça de artilharia de 75 milímetros em posição no Panamá em 1942 (Dickey Chapelle/ Imagens Históricas de Wisconsin)
A foto mais reproduzida de Dickey Chapelle até a guerra do Vietnã: Cpl. William Fenton criticamente ferido e a espera de tratamento a bordo do USS Samaritan. Ele sobreviveu (Dickey Chapelle/ Imagens Históricas de Wisconsin)
Após ser declarado culpado, um jovem é executado por um pelotão de fuzilamento de rebeldes Argelinos em 1957 (Dickey Chapelle/ Imagens Históricas de Wisconsin)

Soldados sul-vietnamitas durante um confronto de artilharia por volta de 1961-62
(Dickey Chapelle/ Imagens Históricas de Wiscosin)

Aos 23 anos Chapelle teve seu primeiro gosto da guerra, ao cobrir um treinamento do exército do Panamá para a revista Look. Ela passou a maior parte da sua carreira fotografando eventos históricos, da batalha de Iwo Jima à Guerra do Vietnã.

Entre as guerras, Chapelle e seu marido Tony atravessaram o Oriente Médio e a Ásia com a recém-formada agência de ajuda humanitária. AVISO (American Voluntary Information Services Overseas) – Serviço Voluntário Americano de Informações no Exterior – Eles viveram e trabalharam em uma pequena caminhonete por cinco anos.


Dois prisioneiros vietcongues são observados através de uma janela coberta por arame farpado, entre 1961-1965. (DIckey Chapelle/ Imagens Históricas de Wisconsin).



Famílias húngaras atravessando um campo congelado na Áustria, perto da Aldeia de Andau. Eles caminharam pelo menos 16 quilômetros sobre o terreno coberto de neve sob temperaturas próximas a zero graus para escapar da insurreição húngara.(Dickey Chapelle/ Imagens Históricas de Wiscosin).
À esquerda, Fidel e Raul Castro posam com uma bazuca durante a Revolução Cubana na Província de Oriente, em 1958. (Dickey Chapelle/ Imagens Históricas de Wisconsin).
Um grupo do exército de Fidel Castro, por volta de 1958-1959. O segundo homem sentado à direita pode ser Che Guevara. (Dickey Chapelle/ Imagens Históricas de Wisconsin).

“Você pode fazer qualquer coisa que você queira fazer, se você quiser muito fazê-lo, irá desistir de qualquer outra coisa para isso.” Disse ela em sua biografia “Fire in the Wind” (Fogo no Vento). Por fim, ela deu tudo o que tinha – incluindo sua vida. Em sua última viagem ao Vietnã, Chapelle estava com uma patrulha quando um fuzileiro naval detonou uma mina que atirou estilhaços por todo lado. Um dos fragmentos cortou a artéria carótida de Chapelle.

Em uma inversão de papéis, a mulher por trás da câmera, tornou-se a fotografia. O fotógrafo Henri Huet, da Associated Press, fotografou o Capelão John MacNamara enquanto ele fazia o sinal da cruz sobre o corpo curvado de Chapelle. Seu brinco de pérola inconfundível alinhado ao lóbulo de sua orelha. Seu chapéu fora arremessado na grama. Alguns Mariners, uns mais próximos que outros, provavelmente sem saber se ela gostaria de privacidade ou conforto, presenciaram seus momentos finais. Mas, sabia-se com certeza, que ela morreu fazendo o que havia nascido para fazer.

Fonte: Washington Post