terça-feira, 5 de dezembro de 2017

O fotógrafo holandês que inspirou Goldin e Tillmans

dezembro 05, 2017 | por Gabriela Brina


Ed van der Elsken era um romântico, um autobiógrafo e um documentarista, obcecado com a juventude, o protesto, a sexualidade e as subculturas das ruas europeias. Suas soltas, cândidas e casuais imagens parecem especialmente pertinentes hoje em dia, em um mundo onde a documentação diária vem como segunda natureza. Assim como, para muitos, o smartphone tornou-se uma extensão de seus corpos, Van der Elsken disse uma vez que ele "teria gostado de ter transplantado uma câmera em sua cabeça para gravar permanentemente o mundo ao seu redor". Assim como Colin van Heezik escreve no novo catálogo de exposições "Camera in Love", Elsken "presagiou nossa cultura de imagem."

Nascido em Amsterdã em 1925, Ed treinou como projecionista antes de se focar na fotografia, e o desgosto de um envolvimento fracassado o enviou vagando para Paris. Foi na capital francesa que ele começou a trabalhar na Magnum Photos em 1950. Tendo aberto apenas um ano antes, foi a primeira agência onde seus fotógrafos poderiam manter a propriedade de suas imagens. Elsken trabalhou nos quartos escuros de Henri Cartier-Bresson e Robert Capa antes de conhecer sua primeira esposa, a fotógrafa húngara Ata Kandó e se mudar para a Rive Gauche, onde começou a capturar os boêmios nas ruas de Paris.


Ed van der Elsken teve três esposas ao longo de sua vida, cada uma impactando e aparecendo em seu trabalho. Edward Steichen, curador de fotografia da MoMA, encorajou van der Elsken a transformar os retratos íntimos de seu relacionamento com Ata Kandó em uma novela de romance ficcional, "Love on the Left Bank" - sua primeira publicação. A fotógrafa Nan Goldin escreveu sobre seus fortes laço com Van der Elsken, descoberto em seus íntimos autorretratos. "Como Ed, escrevi-me como amante. Às vezes, a obsessão durou anos. A fotografia era como a sublimação do sexo, um meio de sedução e uma forma de permanecer sendo uma parte crucial da vida daqueles que capturei. A chance de tocar alguém com uma câmera ao invés de fisicamente. É essa noção - de estar obcecada com alguém, e, através de fotografias, tornando essa pessoa icônica - que ressoou comigo em seu trabalho."

O fotógrafo capturou assuntos altamente variados: a grande inundação na Holanda de 1953, o estilo de vida rock'n'roll dos Beatniks alemães, os protestos holandeses durante a invasão soviética na Hungria, os protestos contra a ocupação do Vietnã no Japão, a estilo de vida das ruas de Tóquio e o abate de elefantes na África Central para citar alguns. Sua lente não conhecia nenhuma herança - na verdade, era a diversidade da humanidade que ele pretendia capturar: todas as idades, sexualidades, raças, caminhos da vida, "meu povo", como ele os chamava. Mas a intimidade que ele captura com cada uma das suas três esposas oferece um espelho para todo o seu trabalho e sua crueza.



Assim como no museu Stedelijk de Amsterdã foi aberta a maior retrospectiva do trabalho de Ed van der Elsken esse ano, o lindo catálogo de acompanhamento "Camera in Love" também foi à venda. Como Goldin sugere em seu ensaio, "Ed não ganhou a atenção que ele merecia" - a afirmativa traz a ideia de que talvez agora, a hora do fotógrafo tenha chegado. Enquanto suas imagens ressoam com a nossa cultura de imagem contemporânea, a atenção cuidadosa de Van der Elsken para celebrar a diversidade e a individualidade de seus companheiros humanos - para não mencionar sua propensão a se rebelar e protestar - se demonstra ainda mais pertinente para a atualidade.









Fonte: AnOther