sábado, 28 de abril de 2018

Fotógrafo brasileiro é acusado de usar animal empalhado em foto e perde prêmio internacional

abril 28, 2018 | por Resumo Fotográfico

Márcio Cabral diz ter testemunha de que cena não foi manipulada; museu pediu a equipe de especialistas para analisar a imagem após denúncia
Fotografia de Marcio Cabral havia sido a grande vencedora do concurso internacional

A foto de um tamanduá diante de um cupinzeiro no Parque Nacional das Emas, em Goiás, que havia sido declarada vencedora do Wildlife Photographer of the Year 2017, foi desqualificada por supostamente apresentar uma cena manipulada. Segundo a organização, o fotógrafo brasileiro Marcio Cabral teria usado um animal empalhado, violando as regras do concurso.

Cabral nega ter alterado a cena da foto e alega que uma testemunha estava presente no dia. Segundo ele disse à BBC, outros fotógrafos e turistas estavam no parque naquele momento e, portanto, "seria muito improvável que alguém não visse um animal empalhado sendo transportado e colocado cuidadosamente nesta posição".

Esta não é a primeira vez que o júri do Wildlife Photographer of the Year teve que desqualificar uma inscrição vencedora. Em 2009, a foto ganhadora do grande prêmio, que supostamente mostrava um lobo espanhol saltando por cima de um portão, foi desqualificada.

Suspeita e análise detalhada

A imagem do brasileiro havia vencido o prêmio na categoria "Animais em seu Ambiente". As luzes verdes que aparecem são de um besouro que vive nas camadas externas dos cupinzeiros para atrair suas presas, os cupins. A legenda da foto dizia que a aparição do tamanduá foi inesperada, um "bônus surpresa".

O Museu de História Natural de Londres diz que recentemente algumas pessoas levantaram a suspeita de que a imagem teria sido encenada - e que o intruso faminto é, na verdade, um modelo empalhado que pode ser visto na entrada da reserva (foto abaixo). Quando alertado para essa possibilidade, o museu pediu a cinco cientistas que revisassem a foto vencedora e a comparassem com o modelo de exibição do centro.

Tamanduá empalhado, no Parque Nacional das Emas, em Goiás

Esses profissionais, incluindo o especialista em taxidermia do Museu de História Natural londrino e pesquisadores sul-americanos de mamíferos e tamanduás, trabalharam separadamente uns dos outros, mas todos chegaram à mesma conclusão - que se tratava do mesmo animal. Os cientistas descobriram que as marcas, as posturas, as morfologias e até mesmo o posicionamento dos tufos de pelos eram muito semelhantes.

O Museu de História Natural diz que Cabral cooperou totalmente com a investigação, fornecendo imagens RAW (formato cru) tiradas "antes" e "depois" da cena vencedora. Mas nenhuma delas incluía o tamanduá.

"Infelizmente, não tenho outra imagem do animal porque é uma longa exposição de 30 segundos e ISO 5000. Depois que os flashes foram disparados, o animal deixou o local, por isso não foi possível fazer outra foto com o animal saindo do local totalmente escuro", explicou Cabral.

As regras do concurso afirmam que "as imagens não devem enganar o espectador ou tentar deturpar a realidade da natureza". Dessa maneira, a fotografia perdeu seu título de vencedora e foi retirada da exposição com os registros ganhadores da competição.

Segundo o brasileiro, o centro de visitantes do Parque das Emas fica trancado à noite e tem guardas, portanto, ele não poderia ter acesso ao tamanduá empalhado. Ele pretende voltar ao parque ainda este ano para coletar evidências que acredita que o inocentarão.

Fonte: BBC