segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Yan Boechat é o vencedor do prêmio Vladimir Herzog na categoria Fotografia

outubro 19, 2020 | por Camila Camargo

Em reportagem para O Globo, fotógrafo mostrou o efeito da pandemia na série de retratos "Durante crise da Covid-19, mais de 30% dos óbitos ocorrem em casa em Manaus"

Fotografia da série de retratos de Yan Boechat para O Globo

O Prêmio Vladimir Herzog chegou a sua 42º edição dentro de um contexto social e político em que a pauta de Direitos Humanos aparece com cada vez mais frequência, inclusive, nas pautas jornalísticas. Como parâmetro, está o fato dessa edição ter atingido recorde de registros: 1.059 produções, divididas nas categorias "Arte", "Fotografia", "Produção Jornalística em Áudio", "Produção Jornalística em Vídeo", "Produção Jornalística em Multimídia" e "Produção Jornalística em Texto". 

A comissão organizadora do prêmio anunciou os vencedores no sábado, dia 17, durante sessão pública transmitida pelo canal do instituto no Youtube.

Para o júri, os registros de Yan Boechat se destacaram pelo caráter de denúncia, pela ética na construção e desenvolvimento do trabalho e pela relevância com o tema de Direitos Humanos. Mesmo com a pandemia avançando em números assustadores pelo Brasil e pelo mundo, aos poucos, esses números foram perdendo peso quando não associados ao rostos e imagens dessas pessoas. Diferente do que pode ser comumente encontrado em programas televisivos policialescos, o trabalho de Yan não se trata apenas de uma exposição gratuita de dor e sofrimento daquelas pessoas, e sim, de uma necessidade em humanizar e trazer para a realidade os números da pandemia. 

O trabalho de Yan não foi o único destacado. A menção honrosa, ficou para o registro "Presidente Viral" feito por Gabriela Biló para O Estado de S.Paulo. De maneira mais simbólica, a foto também é um retrato da crise pandêmica, quase como captando no espírito do instante decisivo de Bresson. Ali, o presidente brasileiro, criticado pelos seus posicionamentos em meio a crise, é visto em público, sem máscara e tossindo. 

Presidente Viral, a foto de Gabriela Biló para O Estado de S.Paulo 

A fotojornalista Gabriela Biló concorreu ainda com outra foto "Na mira" também publicada no O Estado de S.Paulo. Os demais finalistas foram: "Amazônia Pede Socorro" de Bruno Kelly para Reuters, "Um rio poluído no quinta de casa" de Michael Dantas para AFP, "Sombra da pandemia" também de Michael Dantas, mas dessa vez publicado pelo O Globo.

Sombra da pandemia, de Michael Dantas para O Globo

 Um rio poluído no quintal de casa, de Michael Dantas para AFP.

O trabalho "Culturas em conflito" de Joedson Alves para a Agência EFE estava inicialmente entre os finalistas, porém por decisão quase unânime da comissão, ele foi desclassificado do prêmio. O Instituto recebeu manifestações contrárias a indicação, vindas inclusive da liderança indígena Yanomami e da Hutukara Associação Yanomami. A discussão levantada foi sobre violação dos direitos dos povos indígenas em não serem fotografados sem autorização. Esse direito é assegurado pela Convenção 169 da OIT e pela Portaria 177 da FUNAI. A imagem, que retrata uma mulher Yanomami tentando colocar uma máscara foi realizada durante uma ação do governo que convidou os jornalistas. 

Após a divulgação dos vencedores o Instituto ainda promoverá no dia 24 de outubro uma roda de conversa com os premiados e no dia 25 outubro ocorrerá a solenidade de premiação. Ambos, serão também transmitidos pelo canal do prêmio no youtube