domingo, 29 de novembro de 2020

Ísis Medeiros lança fotolivro sobre crime ambiental em Mariana

novembro 29, 2020 | por Adriana Vianna


Mina do Chico Rei em Ouro Preto, primeira mina de Minas Gerais. 

Cinco anos depois da tragédia que paralisou a vida em Mariana e deixou Minas Gerais em prantos, a fotógrafa Ísis Medeiros traz a público o fotolivro "15:30" - hora que foi anunciada, dentro da mineradora, a ruptura da barragem. Com 71 imagens e prefácio de Ailton Krenak, Ísis espera mobilizar mais uma vez a atenção para o evento que até hoje gera consequências socioambientais. As imagens documentam a tragédia de Mariana através de uma síntese histórica, desde o dia seguinte aos desdobramentos nos anos posteriores junto às comunidades locais. 

"Queria chamar atenção para a hora exata, porque segundo a população atingida, foi exatamente quando a vida foi interrompida em toda região. É uma simbologia que representa esse rompimento da história e um início de um longo processo de novos crimes e violações de direitos", diz a fotógrafa. 

O livro será lançado nesta segunda-feira, dia 30 de novembro. Para o lançamento, Isis conduzirá uma live às 19h, no canal da editora Tona no YouTube com a presença de Ailton Krenak, da fotógrafa e documentarista Nair Benedicto e da ativista Simone Silva, do grupo de atingidas da Bacia do Rio Doce.

No dia 9 de dezembro, também às 19h, fará mais uma transmissão ao vivo com a participação do fotojornalista Alexandre Sequeira, da ativista Eliane Balke e da jornalista Cristina Serra, autora do livro "Tragédia em Mariana: A história do maior desastre ambiental do Brasil". 

O líder indígena Ailton Krenak, por Rui Teixeira, assina o prefácio do livro e participa da live

Mais que um documento visual

"15:30" traz 71 imagens selecionadas por Medeiros dentre mais de 8 mil fotos que compõem todo trabalho. "Não foi fácil editar todo esse material. É bem grande e diverso. Vai desde as primeiras reuniões de atingidos pela barragem em Mariana, passando por retratos, visitas a comunidades, reuniões, plenárias, manifestações, marchas e encontros, até as últimas imagens das ruínas de Bento Rodrigues, quatro anos após o crime", conta a fotógrafa. "Como representar cinco anos de luta, resistência, impunidade e injustiça? Qual a melhor forma de contar sobre sofrimento, dor e indignação, através das imagens? São escolhas complexas, revisitar esse trabalho foi uma tarefa difícil".

Ela conta que a cobertura do crime ambiental de Mariana mudou toda sua perspectiva profissional como fotógrafa. Foi através do contato com os atingidos pela tragédia que a mineira decidiu tornar-se fotojornalista e desenvolver um trabalho de denúncia com relação à atividade exploratória da mineração em Minas Gerais. “Estar diante desse crime me fez sentir mais humana. Isso interferiu diretamente no meu fazer fotográfico, na minha abordagem e na aproximação das pessoas". 




A ideia do livro surgiu quando passou a acompanhar as comunidades da Bacia do Rio Doce. "Fui pela primeira vez cobrir a situação em Mariana já acompanhando o MAB - Movimento dos Atingidos por Barragens. "Foi através da atuação junto aos movimentos sociais que me envolvi de forma mais prática, nas cidades e comunidades atingidas”, relembra. "Com o passar do tempo e o esfriamento do assunto, vi cada vez mais a necessidade de produzir um material que ficasse para a posteridade, que trouxesse a temática para o centro do debate. Com intenção de ampliar as vozes dos atingidos que gritam por justiça, decidi materializar parte desse trabalho em um livro". 

Para Medeiros, há pouca informação documental sobre o assunto nos museus, galerias e acervos públicos. "Não temos sequer uma plataforma digital reunindo os principais estudos a respeito do tema, uma exposição audiovisual ou qualquer outra documentação disponível para estudo, quem está contando essa história são as mineradoras. Sentia a obrigação de devolver parte dessa história documentada às comunidades, após cinco anos de envolvimento, uma solução possível foi produzir esse livro", ressalta.






A fotógrafa

Formada em Design, decidiu que iria seguir pela fotografia ainda durante o curso, quando fez um intercâmbio na Ilha de Malta. Ao voltar para o Brasil em 2013, se deparou com as jornadas de manifestações de junho e saiu com a câmera nas mãos para documentar o histórico momento político do país. De lá para cá, além da cobertura da tragédia ambiental de Mariana e da situação da mineração em Minas Gerais também em outros territórios, participou de outros projetos com viés social. "Meu trabalho é também voltado à luta e ao empoderamento das mulheres. Realizei em 2016 o projeto 'Mulheres Cabulosas da História', premiado com a medalha 'Clara Zetkin' que destaca mulheres com iniciativas transformadoras". 

Medeiros é integrante do fotocoletivo Mamana e uma das fundadoras do grupo "Fotografia pela Democracia", iniciativa nacional de fotógrafas e fotógrafos que lutam em defesa da democracia e dos direitos humanos no Brasil (2018). Em 2019, recebeu menção honrosa no Primeiro Congresso de Fotógrafas Latino-Americanas, única brasileira premiada no concurso.  Em 2020, coordenou a campanha solidária "Fotografias por Minas", em apoio às comunidades sem assistência para enfrentamento do coronavírus. Lançou neste ano o projeto fotográfico documental "Canaã" e foi convidada a apresentá-lo através do programa Convida, do Instituto Moreira Sales.

A editora Tona 

De Belo Horizonte, voltada para trabalhos contemporâneos de fotografia, é fruto da parceria entre os fotógrafos Pedro Castro e Douglas Mendonça. "A ideia é publicar novos fotógrafos e fotógrafas, bem como trabalhos atuais de profissionais que estão há mais tempo no mercado. O livro "15:30" é a nossa primeira publicação. A ideia é que a editora seja um espaço que viabilize às pessoas de publicarem e que elas sejam reconhecidas por isso", explica Pedro Castro.  



"15:30", de Ísis Medeiros

Lives de lançamento
30 de novembro, segunda-feira, às 19h 
9 de dezembro, quarta-feira, às 19h
Canal da editora no YouTube:  https://bit.ly/3fdsItm

Livro "15:30"
120 páginas, 71 fotos, brochura 
Preço de capa: R$ 40
Link para pré-venda: tonaeditora.com.br