terça-feira, 24 de março de 2020

Curador do Diário Contemporâneo fala sobre a 11ª edição do prêmio

março 24, 2020 | por Resumo Fotográfico

Mariano Klautau Filho, curador e coordenador do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia | Foto: Irene Almeida

Entrevista concedida para Debb Cabral

Três prêmios de residência artística e uma mostra coletiva com a curadoria convidada de Rosely Nakagawa. É assim que o Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia inicia a convocatória para a sua 11ª edição. Depois de completada uma década de atuação, o projeto decidiu propor experiências do pensar e do fazer artístico mais compartilhadas. As inscrições estão na reta final e seguem abertas só até o dia 29 de março, pelo site www.diariocontemporaneo.com.br.

O tema deste ano vem buscar a provocação para o artista na literatura. “Vastas emoções e pensamentos imperfeitos” é uma referência direta ao título do romance de Rubem Fonseca.

Um livro que, nas palavras de Mariano Klautau Filho, curador do projeto, “fala essencialmente das fronteiras da ficção, em que a narrativa é constantemente atravessada pela presença do cinema na vida mental do protagonista e, portanto, tornando-se uma ferramenta de deslocamento poético para a vida real”.

Literatura e cinema atravessam a fotografia e a levam para as possibilidades do contemporâneo em uma fluidez de linguagens e significações.

Confira a entrevista com o curador:

O livro de Rubem Fonseca é mencionado por muitos leitores como uma história frenética. Como você vê isso relacionado com a contemporaneidade, a arte e a comunicação imediatista dos dias atuais?

O livro e, especialmente o seu título, é uma provocação ao artista. Não é preciso ler o romance ou investigar profundamente seus significados. Se o artista puder fazer isso, ótimo. Se não, ele poderá ficar com o efeito imaginativo e plástico que o título pode evocar, pois ele é bastante intenso.

O romance tem uma narrativa de certa forma veloz, mas não é isso que importa muito e sim, o fato de que o protagonista é um cineasta que está o tempo todo vivendo imaginativamente no limite entre imagem e texto, roteiro cinematográfico e realidade, ou seja, alguém imerso na experiência da ficção.

O que seriam estas vastas emoções?

Prefiro que o artista reflita sobre e faça do seu trabalho uma experiência emocional intensa. Não sei o que significa exatamente "Vastas Emoções" mas a expressão me sugere intensidade, paixão ou até uma certa grandeza do sentimento humano.

Cada artista pode interpretar do seu jeito, assim como a ideia de um pensamento imperfeito é muito sedutora no sentido de que faz parte da humanidade pensar, refletir, errar, acertar, pensar, debater, refletir infinitamente como um exercício contínuo.

O protagonista sonha sem imagens. Hoje o nosso mundo é extremamente visual. Seria essa uma forma de neutralizar o que está ao redor e se concentrar nas imagens que estão dentro de nós apenas esperando para se materializar?

Essa é uma boa ideia. Pensar um mundo sem imagens, mas como pensá-lo sendo um artista visual? Por outro lado, o personagem imagina muitas coisas e foge de uma série de eventos em que a realidade se mistura com suas imaginações. Enfim, a provocação é bem aberta, é uma experiência com o caráter visual da palavra e das expressões.

Ano passado, o projeto completou uma década de atuação. Foram realizadas diversas experiências e formatos ao longo destes 10 anos. O que traz, então, este novo ciclo?

Traz basicamente uma curadoria convidada (Rosely Nakagawa) que irá assumir a construção e a narrativa da grande mostra. Traz também os prêmios dedicados exclusivamente às residências artísticas porque queremos centrar o foco na formação do artista sem precisar exigir dele um resultado, mas propor um processo.

E mais: uma comissão científica para pensar de modo organizado o conceito da programação de palestras, oficinas e encontros com pesquisadores, levantando alguns temas da arte em diálogo com outros campos.

O projeto está propondo experiências mais compartilhadas. Fale um pouco sobre as residências neste sentido.

Como falei anteriormente, é o sentido processual e de formação que nos interessa quando propomos as residências.

A conversa que os artistas residentes terão com o público ou todo o tipo de trabalho em processo que poderá ser gerado nos coloca em contato com a arte como pesquisa e conhecimento. É isso que queremos estimular no artista, que pense em seu processo, que pense sobre o que quer dizer no seu trabalho, que não só limite sua participação à exibição de trabalhos.

O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é uma realização do jornal Diário do Pará com apoio institucional do Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, do Sistema Integrado de Museus, SECULT e do Museu da UFPA; colaboração da Sol Informática e patrocínio da Alubar.