quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Francesca Woodman, fotografia e performance em autorretratos enigmáticos

fevereiro 25, 2021 | por Adriana Vianna


Francesca Woodman (Denver, 1958) deixou para trás uma obra de grande força poética que fala por si mesma. Mais de 800 fotos impressas, nas quais aparece normalmente fantasiada ou nua, como uma figura semioculta, ou como uma presença fantasmagórica em silenciosos quartos abandonados onde a arquitetura e os objetos ao redor parecem ter uma presença física mais tangível que a sua própria. Estes cenários foram interpretados por alguns como uma prévia de sua morte trágica, e dotou sua lenda de uma aura romântica e maldita que alimenta o mistério que paira sobre sua figura.



Quando se completaram 35 anos de sua morte, por suicídio, no inverno, dia 19 de janeiro de 1981, depois de saltar para o vazio do telhado de um edifício do East Side de Nova York, vítima de depressão, sua obra foi exposta no Foam Museum de Amsterdã, sob o título de Francesca Woodman, On Being an Angel, em uma exposição que reuniu 120 fotografias e seis vídeos feitos durante sua curta carreira. Seu talento precoce foi reconhecido e acolhido como uma avis rara dentro do panorama da fotografia, onde até agora não existiam, como ocorre na música e na literatura, reconhecimentos tão prematuros, e serviu de inspiração para as gerações seguintes, assim como estímulo a seus pares, Cindy Sherman, entre outras. Depois de sua morte, algumas críticas de arte feministas usaram a obra dela em seu “discurso”, disse a curadora da exposição em Amsterdam. “O que eu acho importante é situar sua obra no meio do caminho entre a performance e a fotografia. Suas obras funcionam, às vezes, como fotografias e outras como documentos de uma performance.”


O tratamento que a jovem artista fotógrafa deu ao corpo explorando sua relação com o espaços vazios, ruínas, escombros, sugerem uma obra sublimada pelo sofrimento. Amigas próximas diziam que ela não saberia ser outra coisa a não ser “ser artista”. Com influências surrealistas da fotografia, fotografia de moda e influência gótica da literatura, a obra de Francesca escapa de qualquer rótulo e mantém sua singularidade autêntica no âmbito da originalidade. Sobre sua obsessão com autorretratos costumava responder: “É questão de conveniência, estou sempre disponível” - motivo recorrente na história da arte e da fotografia. Mas, ainda há um debate que investiga se a obra se trata de uma autobiografia. Relatos de pessoas de sua convivência trazem a ideia que de Francesca - filha dos artistas Betty e George Woodman, vivia numa casa que era centro da cena artística da cidade - era muito excêntrica, o tipo de pessoa que não fica indiferente, era brilhante, carismática e teatral; gostava de dramatizar e tudo a afetava profundamente. Era forte, embora brincasse de ser frágil. Parecia estar sempre se divertindo e tinha um sentido particular de humor. No entanto, seu final triste e trágico, suscita dúvida e seu público, por vezes, costuma sentir verdadeira intriga pelos detalhes autobiográficos que acreditam que sua obra revela.

Vamos saber mais sobre Francesca Woodman, sua obra está no programa do nosso curso online “O Nu Feminino na Fotografia e nas Artes Plásticas”, que acontecerá entre 22 de março e 2 de abril. As inscrições já estão abertas e podem ser realizadas através do Sympla.



Fonte: El País