"Quem, hoje, acredita que a guerra pode ser abolida? Ninguém, nem os pacifistas. Esperamos apenas (até agora, em vão) deter o genocídio e fazer justiça àqueles que perpetraram graves violações das leis de guerra (pois existem leis de guerra, a que os combatentes deveriam obedecer) e sermos capazes de pôr fim a guerras específicas impondo alternativas negociadas ao conflito armado. Pode ser difícil dar crédito à desesperada firmeza de propósitos gerada pelo choque subsequente à Primeira Guerra Mundial, quando sobreveio a compreensão da ruína que a Europa trouxera a si mesma. Condenar a guerra como tal não parecia tão fútil ou irrelevante logo após as fantasias contratuais do Pacto Kellogg-Briand de 1928, no qual quinze nações de destaque, entre elas Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Alemanha, Itália e Japão, renunciaram solenemente à guerra como instrumento de política nacional; até Freud e Einstein foram atraídos ao debate por meio de uma troca pública de cartas, em 1932, intitulada “Por que guerra?”.
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Não sofrer com essas fotos, não sentir repugnância diante delas, não lutar para abolir o que causa esse morticínio, essa carnificina — para Woolf, essas seriam reações de um monstro moral. E, diz ela, não somos monstros, mas membros da classe instruída. Nosso fracasso é de imaginação, de empatia: não conseguimos reter na mente essa realidade."
Susan Sontag
Trecho do livro Diante da Dor de Outros, 2003.
Lynsey Addario / Instagram
Escolhi o texto de Susan Sontag para refletir porque nele me debruço toda vez que sou convocada pela vida a pensar na guerra e na fotografia de guerra. Sontag sacode a poeira dos olhos, ela desperta o sentido filosófico maior que é refletir na existência.
Cada pessoa percebe a vida com seus olhos e entende seu valor por seus próprios meios, mas o que sempre está em causa quando assistimos ao excesso de violência é a nossa tolerância. Talvez, a essência do pensamento de Sontag seja nos conduzir a essa reflexão menos superficial de que não suportamos a nossa impotência e nos deixamos anestesiados.
Contudo, a fotografia é a voz que fala por nós, é voz da imagem que corta as aparências, é a voz que percorre o pequeno círculo global e a imensa nuvem virtual para mostrar que somos indignados, queremos denunciar e documentar para chamar a atenção de nós mesmos, de outros, e de Deus, talvez.
O fotojornalista é aquele que ainda sente espanto diante do inexplicável desencontro entre empatia e responsabilidade social, diante do que é justo e injusto nas ações humanas, diante do que é necessário fazer porque se tem consciência humanitária e o que é feito por vaidade.
Esses são alguns dos fotojornalistas que estão fotografando na Ucrânia, contrariando a censura da Rússia, que mantem as informações longe das mídias. Em suas redes sociais eles contam detalhes sobre o que veem e fotografam - um relato visual incontestável.
Aris Messinis (@aris.messinis)Fotógrafo grego da Agence France-Presse em Atenas
Brendan Hoffman (@hoffmanbrendan)
Documentarista americano que mora em Kiev, Ucrânia
Brendan Hoffman / Instagram
Chris McGrath (@cmcgrath_photo)
Fotógrafo australiano
Emílio Morenatti (@emilio_morenatti)
Fotógrafo espanhol
Fotojornalista norte-americana
Evgeniy Maloletka (@evgenymaloletka)
Fotógrafo ucraniano baseado em Kiev
Justyna Mielnikiewicz (@justmiel)
Fotógrafa da Polônia
Lynsey Addario (@lynseyaddario)
Fotojornalista norte-americana
Mstyslav Chernov (@mstyslav.chernov)
Jornalista ucraniano
Mikhail Palinchak (@mpalinchakphoto)
Documentarista e fotógrafo de rua ucraniano
Marcus Yam (@yamphoto)
Fotojornalista malaio
Oksana Parafeniuk (@oksana_par)
Fotógrafa independente de Kiev, Ucrânia
Pete Kiehart (@kiehart)
Fotógrafo freelance com sede em Washington, EUA, atualmente na Ucrânia
Pete Kiehart / Instagram