terça-feira, 26 de abril de 2011

O não uso da cor na fotografia

abril 26, 2011 | por Cid Costa Neto

Foto: "Soldiers" por Renan Rosa.
A primeira fotografia colorida surgiu em 1861, mas apenas em 1935 ela tornou-se verdadeiramente popular, com o surgimento do filme Kodachrome. Mas embora a tecnologia já permitisse o uso de cores na fotografia, o uso do filme preto e branco manteve-se em alta por muito tempo. Em grande parte, isso se deve a uma maior facilidade na revelação (quando ainda manuais), em outra, por questões visuais.

É muito comum alguns fotógrafos optarem por utilizarem o preto e branco na fotografia, seja como estilo estético ou numa tentativa de mascarar, na pós produção, a sua inabilidade em trabalhar com as cores. A opção de não utilizar cor, no entanto, deve ser algo pensado previamente, de forma a fazer parte da estética e conceito da imagem desde o seu nascimento.

Trabalhar com a cor é algo que exige uma atenção particular. Com uma grande força visual, algumas cores, por vezes se destacam com evidência imediata da percepção, desapropriando de alguns objetos, a importância que estes deveriam ter em cena. Em contraponto, uma determinada cor pode dar valor a algo que deveria manter-se em segundo plano. A decisão de abrir mão do uso de cores deve ser portanto, um ato consciente, para concentrar o valor do trabalho nos corpos e formas dos objetos, pessoas e lugares, valorizando linhas, texturas ou contrastes, de acordo com a idéia que o fotógrafo deseja passar.

Além da questões sensoriais e estéticas, é importante observar que o  não uso da cor passa também por questões simbólicas que agregam valor a uma imagem. A ausência de cor na verdade, é representada na fotografia por tons de cinza, que se relacionam com melancolia e por estarem entre o branco e o preto são consideradas incertas, neutras.

“Não é sem razão que o branco é o ornamento da alegria e da pureza sem mancha, e o preto o do luto, da aflição profunda, símbolo da morte. O equilíbrio destas duas cores, obtido por uma mistura mecânica, dá o cinza. É natural que uma cor assim produzida não tenha nem som exterior nem movimento”. (Kandinsky, In: PEDROSA, 2002)

Referências:
  1. PEDROSA, Israel. Da cor a cor inexistente. 9. ed. Rio de Janeiro, Léo Christiano, 2002. p. 118-119.