Balthus Klossowsk e sua esposa, Setsuko, por Duane Michals, 1995. |
Ao se tomar conhecimento dessa tendência às anotações, esse registro do pintor franco-polonês Balthus, e da sua esposa ganha ainda mais força. Michals, ao fotografar celebridades, geralmente para revistas de moda e entretenimento como Vogue e Esquire, apenas registrava os nomes, sem maiores observações. Porém, apesar de saber disso, diante dessa imagem tão tocante, a impressão que se tem é a de que ele omitiu-se, de que preferiu calar-se diante do que a imagem diz. De que sim, ela é capaz de falar por si.
A cena evoca a dúvida: será que Balthus está doente? O roupão, a face parcialmente vista, e, sobretudo, a idade avançada, são motivos que fazem o público suspeitar que o pintor possa estar com a saúde comprometida. Portanto, sua esposa estaria ao seu lado como cuidadora caridosa, entretanto, o semblante dela contrasta profundamente com essa expectativa. A face de Setsuko é serena e cúmplice, não demonstra pesar ou lamento algum. Ela não transparece ser a cuidadora de um velho moribundo, mas a companheira de um homem que está chegando ao final de seus dias, e ambos estão tranquilos. O espelho que ela usa para refletir o rosto encovado do seu companheiro olha o seu, eles se miram, se admiram. A imagem é comovente porque registra além do momento, capta o clima de cumplicidade e amor que leva uma vida inteira para ser solidificado, quando o encontro dos olhares é suficiente para comunicar, compreender e preencher todas as coisas.