domingo, 11 de março de 2012

Balthus e Setsuko por Duane Michals

março 11, 2012 | por Natália Nunes

Balthus Klossowsk e sua esposa, Setsuko, por Duane Michals, 1995.
Duane Michals influenciou diversas gerações de fotógrafos com sua originalidade, sobretudo ao introduzir, nos idos da década de 60, as séries de imagens que em sequência contavam micro-histórias. Mas, provavelmente o mais peculiar de seu trabalho sejam os pequenos textos que ele fazia à mão nos cantos das suas fotografias, notas reflexivas, filosóficas, comentários que incluíam o que não era visto na imagem. 

Ao se tomar conhecimento dessa tendência às anotações, esse registro do pintor franco-polonês Balthus, e da sua esposa ganha ainda mais força. Michals, ao fotografar celebridades, geralmente para revistas de moda e entretenimento como Vogue e Esquire, apenas registrava os nomes, sem maiores observações. Porém, apesar de saber disso, diante dessa imagem tão tocante, a impressão que se tem é a de que ele omitiu-se, de que preferiu calar-se diante do que a imagem diz. De que sim, ela é capaz de falar por si.

A cena evoca a dúvida: será que Balthus está doente? O roupão, a face parcialmente vista, e, sobretudo, a  idade avançada, são motivos que fazem o público suspeitar que o pintor possa estar com a saúde comprometida. Portanto, sua esposa estaria ao seu lado como cuidadora caridosa, entretanto, o semblante dela contrasta profundamente com essa expectativa. A face de Setsuko é serena e cúmplice, não demonstra pesar ou lamento algum. Ela não transparece ser a cuidadora de um velho moribundo, mas a companheira de um homem que está chegando ao final de seus dias, e ambos estão tranquilos. O espelho que ela usa para refletir o rosto encovado do seu companheiro olha o seu, eles se miram, se admiram. A imagem é comovente  porque registra além do momento, capta o clima de cumplicidade e amor que leva uma vida inteira para ser solidificado, quando o encontro dos olhares é suficiente para comunicar, compreender e preencher todas as coisas.