quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Fine Art Fotográfica e o Design de Interiores

janeiro 14, 2016 | por Sanchez jmc


Se eu tivesse que definir fotografia em uma única palavra, ela seria: memória. Não me refiro à estrutura funcional que todos os homens normalmente possuem mas sim, à capacidade humana de captar imagens significativas e armazena-las de forma tão peculiar transformando-as em infinitos significados. Falo também do ato de recolher imagens, reprocessa-las (edita-las), ou seja, um fenômeno ótico, que está impregnado do emocional e que determina o ato pessoal em termos de decodificar luz e cor: algo único que varia de pessoa pra pessoa, tecnicamente. Além disso, as imagens que produzem as memórias tem três propriedades absolutamente espetaculares:

A Temporalidade: onde “tudo é mais tarde” como dizia o Nosso Poeta maior, Carlos Drummond de Andrade, para quem o ato de recolher imagens é menor do que as memórias que as resgatam e lhes dão “cor”, detalhamento e significados...no futuro. A Singularidade: onde nada que é recolhido pelo nosso olhar é igual ao que o outro vê, porque o significado vem do casamento mágico entre a colheita e tudo aquilo que já temos armazenado pela nossa vivência (um imenso estoque de memórias).

A Generosidade: com que as imagens recolhidas e oferecidas pelos fotógrafos, colhedores de imagens, seja pela técnica; seja pela sensibilidade do olhar ou seja pela capacidade de ver com os olhos do outro (uma espécie de inconsciente coletivo, acidentalmente (?) consciente!), são um vasto e rico material pelo qual cada ser humano tem a capacidade, de se apropriar, reprocessar e utilizar essa leitura, na construção das próprias imagens que servem de alimento pra memória: entenda-se vida... a vida que é mais tarde, como o solo que vai sendo adubado... que irá fluir e produzir lindas árvores.

Dessa forma, a arte de fotografar é a arte de recolher e doar memórias, estas construídas por quem se apropria delas. Esse sim, é o verdadeiro ato de fé dos artistas visuais, dentre os quais os fotógrafos se inserem. Logo, a arte não é arte senão pela apropriação dos outros sobre essa produção... até então, apenas um ato de doação/compartilhamento, um garimpo ou desvario, da argamassa que ajuda a edificar o arcabouço simbólico de que é feito o ser humano.


Na fotografia, histórias esperam pra se revelar pelo olhar de quem registra mas, acima de tudo, pelo olhar de quem as recebe, as vê, decodifica, lhe empresta significados e lhes dá sentidos, claro, dos mais variados e não raro, inusitados.

Dentro dessa elucubração, o que seria, de fato, a presença cada dia maior, da Fotografia na nossa vida e, principalmente, como o texto propõe: na Decoração?

Podemos dizer que a Arte fotográfica, mediante a produção de Obras autorais que carregam o significado e a técnica de seus autores, aliada às tecnologias das mídias de impressão cujo conceito e produção já possuem cerca de 500 anos de história/desenvolvimento (não os papeis que tem milhares de anos e refletem a ansiedade do homem em vencer o tempo produzindo e registrando vestígios de sua marca sobre a Terra), tiveram crescimento muito acentuado nas últimas décadas no mundo. No Brasil, esse crescimento é mais recente e remonta a última década principalmente, tendo acelerado nos últimos 5 anos.

Esse crescimento também representou um processo de segmentação importante: o de colecionadores (que buscam o valor econômico pela percepção, em geral simbólica, da obra: de que outra forma poderíamos explicar a aquisição da Obra Ghost, de Peter Lik por cerca de U$6.5 milhões? Essa abordagem vem sendo disseminado há décadas e cresce no país mas, acima de tudo o de DECORAÇÃO (Design de Interiores): tanto junto a arquitetos/decoradores quanto a clientes finais, que enxergam os aspectos estéticos (não necessariamente símbolos ou os significados). Ou seja, na maioria das vezes a fotografia é vista pelo seu poder de composição estética (mais que pelo valor artístico que é subjetivo): cores, texturas, contrastes, etc., cada dia mais qualitativo e apresentando elementos expressivos (valorização da estética em primeiro plano). Entenda-se que o belo, está absolutamente vinculado à nossa capacidade de sentir, de ser impactado por elementos que nos transmitem paz, tranquilidade, excitação, enfim, sentimentos.



Dessa forma, se entendemos o uso crescente da fotografia, principalmente, pelos seus atributos estéticos e sensoriais (cabe ressaltar que o que mais espanta no “case” Peter Lik, não é o fato de ter vendido uma única obra por U$6.5 milhões, mas o fato de ter vendido, nos últimos anos, mais de U$400 milhões em obras destinadas ao ambiente da decoração), podemos atribuir o crescimento da participação da Arte fotográfica na decoração, dentre outros, aos seguintes fatores objetivos:

A expansão dos projetos chamados CONTEMPORÂNEOS (mesmo que fotografia tenha sido utilizada desde sempre em todos os tipos de projetos) que, por suas características (elementos frios como metais, lacas, vidro e ambientes monocromáticos), demandam elementos de composição (que contribuem para aquecer/humanizar/Harmonizar) como: Tapeçaria, Objetos diversos e OBRAS (artes visuais). Nesse caso, a evolução estética e a questão da similaridade com artes plásticas, numa boa relação custos X benefícios, tem sido determinante para alavancar os negócios em Arte Fotográfica. A flexibilidade (principalmente à partir do advento da fotografia digital) que a arte fotográfica oferece aos especificadores (arquitetos/decoradores), permitindo, na grande maioria das vezes que uma obra possa ser customizada, considerando a demanda dos projetos: me refiro ao dimensionamento dos formatos que se adequam aos espaços disponíveis. E também não raro, ajustes na Cor buscando uma maior harmonia (do ponto de vista estético) com os ambientes em si onde elas se inserem.



Além dos fatores citados, podemos ressaltar: a oferta de obras autorais (assinadas por fotógrafos/artistas de inegável talento); o salto de qualidade das mídias e da tecnologia de impressão; a rapidez na produção/entrega; a durabilidade das obras e os preços atrativos (lembrando que a sua aplicação se dá ao final dos projetos quando os orçamentos já estão bem “curtos”. Nesse caso, a fotografia acaba sendo vista mais como objeto do que arte: “quadro na parede”).

Em suma, como podemos definir (sem esgotar) FINE ART Fotográfica, nesse contexto?

De forma simplificada podemos dizer que é o termo que designa BELAS ARTES em inglês. Inserida nas Artes Visuais, conceito que é amplo, envolve, alem da FOTOGRAFIA, outras áreas como o teatro, dança, pinturas, colagens, gravuras, cinema, escultura, arquitetura, moda, paisagismo, decoração, etc.. Uma vez aplicado a Arte Fotográfica, representa uma fotografia tratada com alta qualidade de produção e impressão e que apresenta durabilidade ( em boas condições entre 50 a 250 anos). Do ponto de vista da Arte, representa a produção Artística peculiar do Fotógrafo autoral e sua visão de mundo, além de sua técnica de captura. A tecnologia aproximou muito a Arte fotográfica das Artes plásticas do ponto de vista estético, da textura, da cor... Dizem que o Fotografo Fine Art “é o pintor que utilizar lentes como pinceis”.



A arte de fotografar é a arte de enxergar o universo com os olhos da humanidade.


REFERENCIAS FOTOGRÁFICAS DO AUTOR: