quarta-feira, 10 de maio de 2017

As cores de Marina Amaral

maio 10, 2017 | por Ana Gabriela

Mineira ganha projeção internacional com trabalho de colorização; confira entrevista com a artista
Albert Einstein, 1921 - Colorização: Marina Amaral

"Eu ando pelo mundo prestando atenção/ em cores que eu não sei o nome/ cores de Almodóvar/ cores de Frida Kahlo, cores..." já dizia Adriana Calcanhotto na canção "Esquadros". Mas, desta vez, não se trata nem de Almodóvar nem de Frida Kahlo. As cores que recentemente ganharam projeção internacional são da artista mineira Marina Amaral. De Belo Horizonte, a jovem de 22 anos uniu o amor pela história e a habilidade no Photoshop para colorir fotos emblemáticas e se tornou tema de veículos internacionais, como a revista Wired e a BBC. Confira o trabalho da artista, além de breve entrevista:

Resumo Fotográfico - Como surgiu o interesse em colorir fotos antigas?

Marina Amaral - Meu interesse surgiu de forma quase aleatória. Desde bem pequena, por volta dos 10, 11 anos, eu comecei a brincar com o Photoshop no meu tempo livre. Não tinha nenhum propósito específico, mas gostava de assistir tutoriais no Youtube e depois passar horas praticando. Até então, eu nem sabia que era possível colorir fotos digitalmente. Em 2015, enquanto dava uma olhada em um fórum de história, encontrei uma coleção de fotos coloridas da Segunda Guerra Mundial. Eu já conhecia bem as ferramentas do Photoshop, mas não sabia como começar. Mesmo assim, resolvi tentar, e não parei de praticar desde então.

Destruição da cidade de Hiroshima, Japão, durante a 2ª Guerra Mundial - Foto original: Arquivo Nacional dos EUA / Colorização: Marina Amaral

O que te motiva a realizar tal trabalho?

Meu interesse pela história, algo que sempre existiu, é um grande fator motivacional. Por mais que eu adore fazer o que eu faço, nem sempre é fácil passar horas e horas olhando para a mesma fotografia, cuidando de cada mínimo detalhe. Mas, por gostar tanto de história, é uma realização pessoal quando eu consigo completar uma imagem e "reviver" aquele momento histórico.

Para você, qual é a função da cor na fotografia?

Acredito que as cores são capazes de quebrar qualquer barreira criada pela monocromia, permitindo que se crie uma conexão mais profunda e íntima entre a pessoa que vê e a foto em questão.

Martin Luther King - Foto original: Arquivo Nacional dos EUA / Colorização: Marina Amaral

Quando percebeu que seu trabalho era bom e tinha potencial?

Eu percebi que existia algum diferencial no meu trabalho quando a revista Wired entrou em contato e quis fazer uma matéria comigo, que acabou repercutindo bastante, e logo depois a BBC. Apesar disso, eu nunca me dou por satisfeita quando finalizo um trabalho, por mais que todo mundo olhe e não ache nenhum defeito. Eu sempre consigo encontrar alguma coisa que posso melhorar. Sou muito perfeccionista, mas acho que isso me ajuda a evoluir como artista.

Como se deu a projeção internacional?

Aconteceu gradualmente, mas a proporção que tomou foi além do que eu imaginava. Meu trabalho começou a ser compartilhado nas redes sociais e os veículos foram entrando em contato, até que cheguei ao ponto de dar 4 ou 5 entrevistas por dia, todos os dias. Foi inesperado, mas muito legal. Sou grata a todas as oportunidades que eu tive e venho tendo na minha carreira.

Czeslawa Kwoka, menina polonesa morta pelos nazistas no campo de Auschwitz, em 1942 ou 1943 - Foto original: Auschwitz-Birkenau State Museum

O projeto que mais gosta é ainda o da criança polonesa no campo de concentração de Auschwitz (foto acima)?

É, e acho difícil que alguma outra foto consiga superar aquela. Ela não é nem de longe a foto mais complexa e demorada que já fiz, mas é a que causou maior impacto emocional em mim e nas pessoas. Eu a divulguei na internet durante o International Holocaust Remembrance Day, sem esperar que ela alcançaria tantas pessoas. O museu de Auschwitz fez uso dela, assim como diversos outros veículos da mídia. Desde então, recebo relatos todos os dias de pessoas do mundo inteiro dizendo que foram capazes de entender a magnitude do Holocausto só após terem a oportunidade de ver o rosto daquela menina em cores pela primeira vez. Esse era o meu objetivo, então eu me orgulho muito desse projeto.

Quais são os tipos de clientes e o que eles buscam ao te contratar?

Trabalho com clientes de vários perfis. Museus, revistas, emissoras de TV, editoras, autores, pessoas que buscam restaurar fotos de família... Cada segmento é diferente, mas, no fim, todos querem que um bom trabalho seja feito na restauração para que a memória de determinada pessoa seja preservada com o devido respeito.

Imperador russo Nicolau II, seus filhos e oficiais cossacos do Konvoy - Foto original: Romanov Collection, General Collection / Colorização: Marina Amaral

Conte-nos um pouquinho sobre o seu workflow.

Não existe mistério. As ferramentas são as básicas do Photoshop. O diferencial está na quantidade de horas que dedico para ter certeza de que cada detalhe está como deveria estar, e nas horas de estudo por trás de todo o processo em si.

Como é especificamente o trabalho de pesquisa para reproduzir cores historicamente acuradas?

Na maioria das vezes, conto com a ajuda de historiadores e especialistas para identificar o maior número possível de objetos em uma cena. Eles me passam as informações em relação às cores que deverão ser utilizadas, e à partir daí tento buscar o maior número de referências possíveis para reproduzir tais cores. A pesquisa também se dá em documentos históricos e jornais da época. Nem sempre é possível identificar tudo, mas o objetivo é chegar o mais perto disso.

Monge em chamas, 1963 - Foto original: Malcolm Wilde Browne / Colorização: Marina Amaral

Tem algum projeto em especial planejado para o futuro (algo já programado ou um 'projeto dos sonhos' em mente)?

Venho trabalhando há quase um ano em um projeto muito especial. Infelizmente, ainda não posso dar muitos detalhes, mas possivelmente algo será dito nos próximos meses. O que posso adiantar é que será algo revolucionário e de gigantesco valor educacional. Está sendo feito em parceria com as pessoas certas, com muito respeito e cuidado, para que alcance o maior número possível de pessoas.

Para conhecer mais sobre o trabalho de Marina Amaral, acesse: www.marinamaral.com.