quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Isis Medeiros e o retrato quente e constante

outubro 01, 2020 | por Adriana Vianna




Ao olhar a exposição de fotografias realizadas durante o isolamento da pandemia, por que sentimos uma vontade imensa de estar lá no exato momento em que as fotos foram tiradas? Essa sensação de coparticipação nos eventos familiares desse ensaio parece possível pela apreciação subjetiva da força poética nas telas fotográficas por onde o movimento continua fluindo mesmo que as imagens estejam estáticas. É possível que a vida seja tão intensa que mesmo congelada em frames fotográficos continue vibrando no tempo. A atmosfera - íntima, luminosa, quase translúcida da casa - aparece nas cenas, naquele contraste clássico do claro-escuro, revelando a situação: um ambiente envolvido por todos os lados. Mas o que coloca em destaque as pessoas e os seus dramas? É a luz? É a sombra? É a luz que as sombras revelam? São as palavras? O conhecimento? A revelação do drama parece traspassado pelas cores quentes da terra e chega a todos nós em nossos próprios dramas. 

Tal como as pinturas dos mestres holandeses, esses tons de terra, ocres, marrons escuros, siennas queimados - uma paleta barroca pequena para tanto significado - trazem em cada fotografia o gesto fotográfico dos olhos que dão lugar à luz e a poesia, para dar lugar ao humano. Todos envolvidos nos tons de uma constância documental, a vida naquele ambiente íntimo está dentro e é parte de um mundo exterior onde quase tudo está inconstante. As cenas do inventário traduzem a solidão e melancolia, como já foi dito.  Talvez a nostalgia da terra, do homem da terra, da gente da terra - que não encontra em suas narrativas vitalidade para enfrentar uma jornada de debates sobre os últimos acontecimentos da sociedade, mas que, motivada pela presença e trabalho da fotógrafa, se envolve, reage, questiona, e ganha voz. 

Os avós Terezinha e Osvaldo na fazenda que fica na zona rural de Canaã, cidade mineira de 5 mil habitantes - Fotos: Ísis Medeiros/Arquivo pessoal

A série "Histórias do Meu Quintal" conta a história de Teresinha (92 anos) e Oswaldo (93 anos), avós de Isis, e pode ser conhecida no Instagram de Isis Medeiros.  A obra será publicada no site do Programa  IMS Convida, junto com os trabalhos dos demais participantes. 

Ísis Medeiros é documentarista e colaboradora no Observatório da Mineração.