domingo, 4 de março de 2012

Tim Walker e a presença do vazio

março 04, 2012 | por Natália Nunes

"Earthquake Damage", Whadwhan Palace, Gujarat, Índia, 2005.
Essa é uma das imagens do Tim Walker que mais gosto. Ela me remete ao vazio pressentido entre as coisas, apesar das coisas, da presença que se faz ausência - e vice-versa. 

Uma das grandes evocações que as locações em ruínas trazem é a sensação de solidão, de abandono e de vazio, independente da cena estar ou não fisicamente vazia. Apesar da foto acima estar abarrotada com mobília, o primeiro impacto que se tem é de que há um vácuo no salão, há uma inquietante impressão de falta, como se ele estivesse desabitado. Vazio. Há um grande contraste entre o tamanho do recinto e o tamanho dos objetos que o ocupam, o que aumenta ainda mais a sensação de que o local está, de certa forma, desocupado - mal ocupado, com certeza. É incrível como o amontoado de coisas espalhadas pelos tapetes não são suficientes para transmitir essa sensação, inclusive visual, de preenchimento, de habitação.

À primeira vista, é provável que muitos nem notem a modelo (Lily Cole) em pé no canto esquerdo sobre a cristaleira. Ela se ausenta com seu mimetismo. Gosto da maneira como as cores do figurino a fazem se misturar ao ambiente como se ela fosse um objeto de decoração que subsistiu ao choque, em riste. Digo choque porque o título da foto é "danos de um terremoto", em tradução livre. Ela permanece de pé, inquebrável e, ao mesmo tempo, quase imperceptível. Com sua presença tênue, ela não chega a habitar verdadeiramente a cena, pelo contrário, ressalta ainda mais seu grande vazio.