sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Série fotográfica revela a precária realidade dentro dos micro apartamentos de Hong Kong

agosto 11, 2017 | por Gabriela Brina


"Naquele dia eu cheguei em casa e chorei", disse Benny Lam ao descrever sua experiência fotografando as sombrias condições de vida em Hong Kong.

Depois de quatro anos visitando mais de 100 apartamentos subdivididos em um antigo bairro da cidade, Lam já estava acostumado com as casas de menos que 2 metros quadrados de madeira, conhecidas como casas-caixão. "Eu me senti tão mal", lembra Lam, "Viver assim nunca deveria ser considerado normal. Eu estava entorpecido. "

Hong Kong está repleta de placas de néon que vendem marcas de luxo, jóias e tecnologia prontas para atrair consumidores ansiosos. O horizonte cheio de arranha-céus contém negócios que fazem da cidade um dos principais centros financeiros do mundo. No entanto, por trás da fachada glamourosa, cerca de 200 mil pessoas, incluindo 40 mil crianças, vivem em espaços que mal cabem o próprio corpo.

Com uma população de quase 7,5 milhões e quase nenhuma terra desenvolvível restante, o mercado imobiliário de Hong Kong aumentou para o mais caro do mundo. Empurrados por aluguéis crescentes, dezenas de milhares de pessoas não têm outra opção que não seja habitar cabanas ilegais, micro apartamentos onde a cozinha e o banheiro se fundem, casas-caixão e casas-gaiola. Desde cozinhar, até dormir, todas as atividades ocorrem nesses pequenos espaços", diz Lam. Para criar as casas-caixão, um apartamento de 400 metros quadrados será ilegalmente dividido pelo seu dono para acomodar em torno de 20 camas beliche, cada uma com um custo de HK$2000 (em torno de 800 reais) por mês de aluguel.

Em sua série chamada "Trapped", Lam quer iluminar as sufocantes habitações que existem na região onde as luzes da prosperidade de Hong Kong não alcançam. Ele espera que ao tornar os moradores e suas casas visíveis, mais pessoas começarão a prestar atenção às injustiças sociais de suas circunstâncias.

"Elas são exatamente as pessoas que entram na sua vida todos os dias: elas estão servindo você como os garçons nos restaurantes onde você come, elas são os guardas de segurança nos shoppings que você frequenta, ou os faxineiros e os entregadores pelos quais você passa quando atravessa a rua. A única diferença entre nós e eles é onde moramos. Esta é uma questão de dignidade humana."

Lam considera uma imagem em particular comovente. Nela, um homem descansa em sua cama, ele não tem espaço para esticar as pernas completamente à sua frente e seus joelhos quase tocam as paredes sem janelas de sua casa-caixão. Ele está comendo feijões cozidos de uma lata, provavelmente seu jantar, e assistindo uma pequena TV mostrando um arco-íris. Para Lam, esse é o melhor exemplo a ser mostrado aos cidadãos mais privilegiados e ao governo, para que eles vejam quão séria é a necessidade que há de uma correção na crise imobiliária de Hong Kong e na desigualdade de renda.

A coragem dos homens, mulheres e famílias que abriram suas portas e compartilharam suas histórias com um completo estranho é algo que ficará guardado em Lam. Muitos deles sentem vergonha de viver em espaços tão apertados, diz ele, mas eles esperam que, uma vez que as pessoas vejam essas fotos, eles receberão algum apoio.