sexta-feira, 19 de março de 2021

Fotógrafo é desligado da agência Magnum por assédio e comportamento abusivo

março 19, 2021 | por Adriana Vianna

A declaração da Magnum Photos foi publicada em 17 de março no seu site e compartilhada nas redes sociais. O Grupo disponibilizou contatos para receber denúncias de má conduta e comportamento inadequado de seus membros


Após as denúncias de assédio sexual e comportamento abusivo, publicadas na revista americana Columbia Journalism Review, a agência Magnum Photos iniciou em janeiro deste ano uma investigação independente sobre a má conduta pessoal de um de seus membros, o fotógrafo David Alan Harvey. A investigação foi concluída em março e na última sexta-feira (12), o Conselho da Magnum votou pela remoção permanentemente do fotógrafo de seu quadro de membros. Antes da votação final, Harvey renunciou, na terça-feira (16).

Em nota oficial, a agência pediu desculpas às vitimas:

“A Magnum gostaria de reiterar suas desculpas às vítimas e sobreviventes. Estamos comprometidos em trabalhar de forma aberta e responsável que construa confiança e segurança com aqueles em nosso setor e com as pessoas com quem colaboramos como parte de nosso trabalho.”

A agência disponibilizou ainda os contatos para fazer denúncias sobre o comportamento inadequado sobre qualquer fotógrafo membro ou sua equipe. Telefones em linha direta e gratuita: 1 866 901 (Estados Unidos), 72332255 00 800 (França), 0800 915 1571 (Reino Unido). Também pelo e-mail confidential@magnunphotos.com e na web www.safecall.co.uk/report.

Assédio sexual

O fenômeno do “assédio sexual”, expressão que Michael Rubinstein descreveu como “um termo novo para descrever um velho problema” chega ao Código Penal brasileiro como um constrangimento com intuito de obter favores sexuais, favorecendo-se de posição superior em alguma situação profissional (Art. 216-A). Uma terminologia ainda patriarcal que visa amenizar a ação, o ato ilícito, não só de constranger a fazer algo que não quer, mas também de investir na redução do papel feminino no âmbito das competências e habilidades profissionais.

O fenômeno que abrange uma vasta escala de ambientes profissionais, e no caso, em questão, o ambiente da fotografia, não passa longe de todos os outros quando o intuito do assédio é, em todos os casos, "manter as mulheres em seu lugar", subordinadas na sociedade, em espaços públicos - domínios masculinos, escreveu a filósofa social Margaret Crouch, PhD. Para ela, beliscar, apalpar, olhar fixamente, assobiar, comentar, e agredir sexualmente (até assassinato), são formas de comunicar o domínio do território, é dizer: “Eu tenho força. Você não.”

As feministas Jan Crosthwaite e Graham Priest levaram a definição de assédio sexual adiante, chamando de comportamento que “limita as perspectivas de autodesenvolvimento, de realização de objetivos e sucesso material”. A definição aponta para o comportamento do gênero dominante “cujo efeito típico é fazer com que o grupo subordinado experimente sua impotência”.  

Como podemos mudar isso? Não se submeter. Denunciar. Fazer entender que o assédio sexual é mais do que um constrangimento, é violência psicológica, emocional, em múltiplos desdobramentos, e sobretudo, é discriminatório - portanto ilegal.