sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Entrevista: José Fujocka

dezembro 02, 2011 | por Cid Costa Neto

Natural de Uberaba, José Fujocka mudou-se para São Paulo em 1988, onde viria a trabalhar como fotojornalista. Mais tarde, criou sua própria agência de tratamento em imagem fotográfica, que hoje atente as principais agências de design e publicidade do país. Em 2008 e 2009 foi vencedor do prêmio "O Melhor da Fotografia" na categoria tratamento de imagem e em 2010 levou o Prêmio Esso de Jornalismo na categoria criação gráfica.

Como foi o seu primeiro contato com a manipulação de imagem fotográfica e como isso virou uma profissão?

JF. Eu já trabalhei na pós-produção fotográfica na época analógica. Tive durante 3 anos (1992 – 1995) um laboratório de Fineart preto e branco chamado “Oficina de Fotografia”. Neste período comecei a treinar no Photoshop 2.5 e no final de 1995 fui trabalhar como diretor de arte em uma agência de design, onde tive minhas primeiras experiências profissionais com o software.

Você trabalhou como fotojornalista no Notícias Populares. Como foi isso?

JF. Este foi meu primeiro emprego como fotógrafo. No início dos anos 1990 o jornal estava reformulando seu projeto gráfico e contratando pessoas que pudessem levar para o jornal uma experiência que estivesse além do universo jornalístico. Esta foi minha sorte, pois meu trabalho era totalmente autoral. O dia a dia do jornal me fez crescer muito profissionalmente. Tanto como fotógrafo, que tinha que estar correndo na cidade em busca de um click, e também como editor fotográfico, cargo que fui assistente durante quase um ano. Participar desta correria e dos fechamentos diários é uma ótima escola para aprender a resolver problemas de forma prática e rápida.

Você ainda fotografa?

JF. Deixei de fotografar depois que fui trabalhar como diretor de arte. Os prazos para publicação costumam ser muito apertados? Como funciona isso no processo de edição? JF. Esta falta de prazo é algo que cada vez mais está complicando nossa vida profissional. Os prazos praticamente deixaram de existir, mas a exigência pela qualidade continua a mesma. O problema é que com a falta de prazo, muito do que poderia ser resolvido na pré-produção deixou de ser feito. É a roupa que não cabe na modelo, o fundo que não deu para pintar direito, o carro que deveria ser vermelho mas só tinha cinza etc... Com estes tropeços que acontecem, o trabalho na pós-produção é muito maior e os prazos não mudam. Com isso a única solução é o aumento da carga horária de trabalho. Hoje trabalhamos muito mais do que há dez anos atrás. Eu acredito que os erros grotescos que vemos publicados de vez em quando nas revistas são frutos desta falta de tempo, além também de falta de cuidado.

Existe alguma liberdade criativa no seu trabalho ou você é sempre obrigado a se limitar ao briefing do cliente?

JF.Em 90% dos trabalhos temos que seguir o briefing enviado pelo cliente. Hoje quase todo mundo já faz um layout super trabalhado no Photoshop para ser seguido como referência. Mas existem alguns trabalhos onde o cliente ou o fotógrafo pede sugestões que possam valorizar o trabalho. Daí podemos usar nosso lado criativo para ofertar algo que vai além do simples retoque.

O cliente tem sempre a razão ou existe algum momento que é necessário impor certos limites à edição?

JF. Existem pedidos que são impossíveis de serem feitos. Ou pedidos que vão ser tão trabalhosos que não existe orçamento que consiga cobrir a mão de obra. Nestes casos o cliente consegue entender. Mas no dia a dia o cliente quase sempre tem razão. É muito difícil você fazer um cliente aceitar o que ele não quer ou não concorda. Até podemos usar várias justificativas, mas se o cliente quer que seja feito do jeito dele certamente vai ser feito. Com a concorrência que existe hoje, se você for um fornecedor que impõe muitas regras para o cliente, com certeza em pouco tempo terá pouco trabalho. Isso em todas as áreas.

Você acredita que, pela facilidade de edição que existe hoje em dia, a fotografia perdeu um pouco da sua credibilidade como registro documental?

JF. No caso do fotojornalismo e da fotografia documental acredito que a credibilidade na veracidade do registro ainda existe. Agora, nos outros segmentos editoriais e publicitários a credibilidade se perdeu totalmente. O público já entende que toda imagem é uma fantasia e que o objetivo é vender algo, seja beleza ou um produto. E que para isso acontecer vale tudo. O mais leigo dos leitores olha para uma capa de revista e diz que a mulher ficou bonita por causa do Photoshop, mesmo sem saber o que significa isso.

Qual a sua opinião sobre o projeto de lei que obriga o aviso de advertência nas imagens publicitárias que forem manipuladas?

JF. Eu acredito que esta lei não vai mudar muita coisa. Nas embalagens de alimento já faz tempo que é obrigatório colocar o texto “Imagem meramente ilustrativa” e todo mundo continua comprando os produtos pela embalagem. Quanto mais bonito e retocado for o produto maior sua capacidade de ser comprado. Em alguns segmentos eu seria mais radical. No caso específico de publicidade ou embalagem de beleza, eu acho que deveria ser proibido qualquer tipo de retoque que mude a realidade. Vemos vários comparativos mostrando o antes e depois, onde mulheres ficaram mais magras ou sem rugas depois de usarem um determinado produto, e sabemos que isso em vários casos é uma enganação.

No início desse semestre a L’Oréal, foi forçada a retirar duas campanhas publicitárias no Reino Unido por conta do excesso de retoques nas fotos. Você acredita que existe uma tendência contrária ao uso da edição, por parte da sociedade?

JF. Nos últimos anos realmente tivemos um enorme número de anúncios publicitários usando e abusando do retoque. Mas agora que todo mundo já sabe que isso é uma mentira, e que muitas vezes caí no ridículo, o mercado está voltando um pouco atrás. Acredito que a tendência, por agora, é termos uma imagem um pouco mais natural.

Você tem algum projeto autoral paralelo ao trabalho de edição, seja em fotografia ou outras mídias?

JF. O que tenho tentado me dedicar um pouco mais além do trabalho diário na pós-produção é na edição e publicação de livros. Já lancei meu primeiro livro: “Miro - artesão da luz”, publicado pela editora Luste. Agora já estou no segundo projeto.



Para conhecer melhor o trabalho de José Fujocka, acesse: www.fujocka.com.br