sábado, 6 de agosto de 2016

Fotógrafa relata o desrespeito dos homens na profissão

agosto 06, 2016 | por Ligia


A norte-americana Emma Howells, fotojornalista e editora de fotografia do jornal The Post em Athens, Ohio, escreveu recentemente para o PetaPixel, um artigo relatando o desrespeito que as mulheres sofrem no meio profissional.

Queridos homens: Parem de desrespeitar as mulheres fotógrafas no trabalho

Antes, na semana passada, eu ainda não tinha falado sobre isso fora do meu circulo de amigos mais próximos, mas eu já não poderia me dar ao luxo de manter isso quieto. Como mulher com atribuições fotográficas ao redor de fotógrafos do sexo masculino diariamente eu normalmente sinto a necessidade de agir com ousadia para provar a mim mesma que tenho dignidade em meio aos outros, principalmente fotógrafos mais experientes, essencialmente homens.

Independentemente de sua experiência, se é um pai suburbano, um amador ou um fotógrafo de imprensa, logo de cara, se é regularmente tratado como inferior, é um obstáculo que é preciso transpor conscientemente para ser levado a sério.

Ao longo dos anos, venho construindo uma série de estratégias para evitar ser minimizada quando me vejo em uma situação onde estou rodeada por outros fotógrafos.

Baseando-se no conceito de “a minha lente é maior que a sua”, frequentemente mantenho minha lente com o protetor mesmo em situações onde ele não é necessário com a intenção de ser durona e provar meu valor através do tamanho físico do meu equipamento.

Uma vez montei minha câmera para que fosse tão ridiculamente grande que frequentemente recebia observações dos mais velhos com comentários do tipo: “Mocinha, sua câmera é tão grande!” (Até hoje eu não sei por que me diziam isso? Será que não percebiam o peso do equipamento nos meus ombros?).

Mesmo assim, fotógrafos amadores homens tem prazer em me ensinar como alterar a velocidade do obturador. O paternalismo no entanto, nem sempre é tão evidente. O que inicialmente inspirou meu post foi um fotógrafo que encontrei em uma roda gigante que eu planejava fotografar. O cara começou a me mostrar fotos em seu celular, falando sobre seu trabalho e dando sugestões para minhas fotos. Nenhuma vez ele pediu para ver meu trabalho ou me perguntou o que eu estava fazendo ali.

Pode ter sido por descuido da parte dele ou mero desinteresse pelo trabalho de outros fotógrafos. Porém, este tipo de coisa já me aconteceu tantas vezes nos dez anos que fotografo, que mesmo se fosse uma coincidência, se parece tanto coma outras situações que já passei que se tornou apenas mais um episódio para a coleção.


Posso dizer com confiança que grande parte das vezes que trabalho com um fotógrafo do sexo masculino ele vai tentar impor seu trabalho sobre o meu ou me inundar com seus conhecimentos ou sugestões sobre composição sem mostrar o menor interesse no meu trabalho.

Lembro-me de uma única vez, recentemente, em que um fotógrafo de jornal, homem e mais velho me tratou com equidade imediatamente. Sua atitude me surpreendeu e hoje me orgulho de poder chama-lo de amigo por que ele me tratou com consideração.

Estávamos ambos cobrindo a mesma história em um tribunal e perguntei sobre a câmera mirrorless que ele estava usando. Ele imediatamente começou a utilizar vocabulário técnico, supondo que eu entendia a terminologia (que obviamente entendi).

Isto é tão raro.

Normalmente, fotógrafos homens falam, “sim, eu tenho uma câmera grande” ou “uso uma lente grande” no lugar de falar sobre as especificações do equipamento ou alguma coisa útil.

Depois de publicar um post no Facebook sobre isso, uma amiga minha comentou que ocorre algo semelhante com as mulheres na indústria cinematográfica. Parece que você já precisa ser um especialista e pronta para esguichar especificações técnicas para poder começar a ser respeitada.

Frequentemente emprego a estratégia “jorrando especificações técnicas”, além de mergulhar em conversas sobre distâncias focais ou tecnologias de sensores simplesmente para impor já de cara minha competência.

Quando sou tratada como uma garotinha e preciso gritar, “Parem”, sou uma boa fotógrafa também! Eu sei o que é isso! Não é legal, é frustrante. Assim, na maioria das vezes eu apenas aceno e me desligo por um instante.

Mas estou cansada disso e não sei muito bem como me defender nestas situações. O que eu realmente gostaria de fazer é perguntar o que os levou a supor que eu não sabia o que estava fazendo.

Desde meu post inicial, recebi uma grande quantidade de comentários de outras mulheres fotógrafas com experiências semelhantes. Presumi que isto acontece com todas as fotógrafas mulheres que conheço, mesmo com aquelas excepcionalmente talentosas, que sou tímida demais para abordar.

Mas neste caso, o talento não é mesmo relevante, não é? Querendo ou não você sabe sobre nosso trabalho quando nos encontra, então por que não nos tratar com respeito?

Parte do que me mantinha quieta inicialmente era a dúvida sobre meu próprio trabalho, pois talvez eu não fosse merecedora do respeito deles. Mas neste caso, o trabalho em si não é o problema.

Eu reconheço que é uma questão complexa: fatores como idade e experiência influenciam a situação também. E não me entendam mal; estou sempre ansiosa por conselhos de fotógrafos consagrados que podem ajudar a melhorar meu trabalho.

Mas quando descobri que mulheres fotojornalistas, que fotografam para grandes mídias estão enfrentando esta mesma luta, sei que a questão não é isolada e é uma tendência que prevalece no campo da fotografia.

Eu só espero que a indústria se toque, e nós como mulheres fotógrafas, temos que estar conscientes desta dinâmica e provar nossa autoestima diariamente a fim de obter o respeito básico que a maioria dos fotógrafos homens estão naturalmente familiarizados.

Fonte: PetaPixel