quinta-feira, 1 de julho de 2021

Fotopoema: Natureza Minha, de Silmara Luz

julho 01, 2021 | por Adriana Vianna

Vem de Gertrude Stein a leitura de que “as coisas são o que são” quando ela escreveu num poema o verso: “Rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa”. A primeira Rosa era uma pessoa física, com número de identidade social e comprovante de residência. As outras rosas que lhe foram designadas pelo verbo sugeriam vestígios da associação do nome da coisa à imagem da coisa e, por consequência, a existência concreta da coisa.



Gertrude Stein, romancista e poetisa nos anos loucos de Paris, estava levantando a tese de que entre os românticos do final do século 18 quando diziam a palavra “rosa" estavam literalmente se relacionando com a “rosa”, a rosa vermelha do jardim. Já os modernos do início do século 19 quando diziam "rosa" estavam não só se referindo à rosa real, mas também aos arquétipos que possam existir na figura “descoisificada” da “rosa”.

O livro “Natureza Minha”, de Silmara Luz, que transparece algum status da mulher no mundo contemporâneo e que expõe flores sem falar sobre flores, parece jogar com esses dois pontos de vista: o do Romantismo quando mostra flores sendo que são o que são: flores; e o do Modernismo quando o que se apresenta em combinação de imagens super saturadas, close-ups explícitos e poesias ácidas, que expressam idiossincrasias próprias das paixões que expulsam a “descoisificação” das coisas concretas, para “coisificar” as manchas dos sentimentos abstratos, ou seja, para transformar em coisa, em material, em objeto concreto, o que existe por dentro. Em outras palavras, encontramos a boa e velha catarse numa obra singular, bem apropriada para revelar que flores são flores que nunca saem de moda e que poesia é poesia é poesia é poesia.

Fotopoema

Entorpecida, Embu-Guaçu - 2009

“O vício por amor é dose dependente. Quanto mais se tem, mais se precisa pra suprir os efeitos entorpecentes. A abstinência gera uma síndrome pior que a adição por açúcar, nicotina ou heroína. Mas como com qualquer outra droga, o organismo se acostuma e consegue sobreviver, mal e porcamente, sem. Até o momento em que um único sinal, cheiro ou resquício, ínfimo que seja, esquecido em algum canto do coração mal lavado resolva emergir subitamente pra devastar o que ainda resta de dignidade aos humores viscerais. É a orgia das sinapses se embebedando nas dopaminas pela presença das migalhas viciantes. Não há tratamento. Só a espera pelo afogamento dos estúpidos neurônios nas próprias endorfinas e adrenalinas e até que se esqueçam que a vida pode ser muito mais que apenas migalhas.” (Adição, Jul, 2008)


Autora

Silmara Luz, nascida em São Paulo/SP, em 1971, reside na zona sul da cidade onde trabalha e estuda. Recebeu a fotografia de herança familiar e fotografa desde quando ganhou sua Tira-Teima. Com graduação na área de Educação, tem mestrado e doutorado na área de Saúde pela Universidade de São Paulo. Técnica em Processos Fotográficos pelo SENAC/SP e em Turismo pela ETEC/SP, tem especial interesse nas questões sociais e antropológicas da fotografia, bem como ambientais e culturais. Desenvolve roteiros fotográficos por São Paulo pela Kultura Fotográfica, onde busca unir toda sua formação em educação, saúde, lazer e cultura.

Livro





Fotos: Henry Milléo - Artisan Raw Books

Self-made woman

“Natureza Minha” é o primeiro livro do selo Self-made woman da Artisan Raw Books, que já possuía o selo Self-made man.



FICHA TÉCNICA:
Livro: Natureza Minha
Autora: Silmara Luz
Número de páginas: 48 páginas
Apresentação: Silmara Luz
Formato: 20 x 20 cm
Tiragem: 20 cópias
Primeira impressão colorido
Preço: R$ 80,00
Editora: Artisan Raw Books