segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Fotógrafa retrata as mulheres que estão lutando contra o Estado Islâmico no Curdistão

outubro 08, 2018 | por Gabriela Brina

"No crepúsculo, as feridas da cidade libertada de Kobani parecem quase suaves. Após os ataques do Estado islâmico, os edifícios esfarrapados respiram uma quietude melancólica que lembra ainda mais enfaticamente a destruição." A fotógrafa Sonja Hamad descreve a realidade de Kobani na Síria, momentos após a cessação da guerra. Suas palavras são tão fortes que elas moldam graficamente o desgosto de testemunhar o Estado Islâmico arrasar toda a sua cidade até o chão. Mas Kobani está lentamente ganhando nova vida, tendo sido reivindicada por um partido político feminino lutando pela sua liberdade.

Hamad passou dois anos fotografando o YPJ do Curdistão - um partido político feminino composto por mais de 10 mil mulheres entre 15 e 45 anos que lutam contra o Estado Islâmico para reivindicar o Curdistão. Fisicamente, é uma recuperação da terra curda atualmente dividida entre a Turquia, a Síria, o Irã e o Iraque. Socialmente, é uma busca feminista por liberdade, já que essas mulheres não apenas usam sua autonomia para consumir papéis tradicionalmente masculinos na guerra, mas também se recuperam de um dos opressores mais violentos da história. Uma coleção de seus retratos pode ser encontrada na série de fotografias de Hamad "» Jin - Jiyan - Azadi « Women, Life, Freedom", que nos incita a olhar para além das fotos sensacionalistas dessas mulheres na mídia ocidental, a fim de conhecer as verdadeiras mulheres por trás das armas.


Zilan, 19 anos, Montanhas de Sinjar

Zilan tem 19 anos. Hamad a conheceu no ponto mais alto das Montanhas Sinjar: um lugar que desempenha um papel muito importante na história recente da luta no Curdistão iraquiano. É onde o ISIS sequestrou centenas de yazidis curdos e os vendeu como escravos nos mercados, os estuprou e até os decapitou. Este era o lugar onde as mulheres tinham que ser mais protegidas. O ponto mais alto de Sinjar é um local de peregrinação. É um local muito seguro, quase como uma fortaleza.

Zilan estava com um grupo de 20 mulheres. Zilan conta para que luta por sua convicção de que as mulheres podem assumir um papel poderoso na construção de uma nova sociedade: "Temos que liderar a luta pela liberdade política e social e levar essa luta à cúpula. Devemos democratizar todas as áreas da vida, como é a tarefa concreta de todo revolucionário e é, ao mesmo tempo, a tarefa de todos os seres humanos conscientes."

Zilan parece uma garota normal de 19 anos, mas, ao mesmo tempo, ela tem uma força especial para lutar contra o EI e proteger o seu próprio povo. Sua confiança e convicção pelo movimento de liberdade curdo, nessa idade jovem, fascinaram a fotógrafa. Na foto, ela está vestindo a típica roupa de guerrilha, uma jaqueta larga e uniforme, toda em verde-oliva, e um "Schutik" - um longo cinto de armas que é amarrado em torno de seus quadris.


Além do fato de estar cercada de guerras, e momentos de medo estarem presentes, os momentos de Sonja com essas mulheres, que te receberam de forma muito aberta, dominam suas lembranças da época. O fato de terem compartilhado a mesma língua e a mesma identidade cultural levou a um relacionamento muito próximo que quase a fez esquecer que estava em meio a uma guerra.

A fotógrafa viajou para o norte do Iraque sem jornalistas ou pessoas da mídia. Isso a permitiu estabelecer uma conexão profunda e honesta com as pessoas de lá. Quando foi procurar por permissão para passar tempo com as mulheres, não demorou muito para que fosse criado um laço de confiança.

Quando Hamad viu pela primeira vez fotos delas na mídia, ela pensou em como esse não é o jeito certo de retratá-las, agitando suas armas e gritando. Foi muito importante para a fotografa deixar as mulheres contarem suas histórias e pelo o que elas realmente estão lutando. Os meios de comunicação ocidentais são fascinados pelas mulheres curdas que arriscam suas vidas na luta contra o EI e, no entanto, as centenas de manchetes e fotografias dessas mulheres são em grande parte homogêneas: elas retratam-nas como pouco mais que uma pistola glamorosa, divas, precursoras do feminismo "oriental".
"Eu realmente espero que através do meu trabalho o movimento feminino curdo e essas mulheres, em particular, sejam mais reconhecidas pelas pessoas em todo o mundo e que este movimento possa realmente receber mudanças em termos dos direitos das mulheres em todo o mundo."









Fonte: Dazed