terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Fotografia Analógica: O que está acontecendo com o filme?

janeiro 21, 2020 | por Frederico Reis



Uma rejeição possivelmente advinda da supremacia tecnológica na fotografia da Era Digital talvez explique o HYPE do filme fotográfico. Sua atual fama com buscas do nome na internet, o aumento das vendas de câmeras analógicas e um novo tipo de fotografia (que já existia, #filmphotography) é grandemente derivado das suas associações e exposições nas redes sociais e o ressurgimento da experiência tátil com material fotográfico fotossensível. O filme, num certame comercial, não agrada a todos - principalmente os grandes nomes do mundo digital em um certo senso -, mas à empresa Kodak muito contenta essa nova “era analógica” da fotografia.

Eu gosto (muitos de nós fotógrafos gostamos), mas outros muitos nem sequer sabem como proceder com um rolo de filme. E como pode um processo nos dividir tanto e deixar tantas dúvidas a ponto de hoje nichos reais e cibernéticos cada vez mais fortes se formarem e fortalecerem a partir disso? Entram aí as mídias digitais, as redes e os produtores de conteúdo - os maiores colaboradores dos grandes produtores de filme, ou a Kodak, ou Fuji, entre outras. São muitos os que fotografam no mundo e os números aumentam tão exponencialmente quanto crescem também (ao menos por agora,) os que fotografam com filme. Qual, então, o motivo pelo qual, num mundo crescentemente digital, fica tão popular a fotografia analógica?

O filme parece mesmo estar em alta, mas na verdade não acredito nem que tenha deixado evidentemente de existir. Acontece desde a sua criação e subsequentemente em números apenas variados. O que se sucede é que mesmo com a internet nem tudo chega na hora e pra todo mundo. As imagens constituídas a partir das mídias sociais fazem a gente querer entender, olhar, experimentar, mas todos os processos analógicos são bem mais trabalhosos e demorados do que permite o timing do processo digital. A beleza, a paciência, o toque do processo indubitavelmente é o que traz pessoas mais próximas da produção fotográfica com sentido conceitual, sentimento e pessoas mais autênticas na fotografia em seu sentido prático-criativo, muito pelo trabalho técnico exigido. Entendo, ainda, esse HYPE do filme.



Há alguns anos dificilmente compraríamos uma câmera analógica; as pessoas estavam tentando se livrar delas. Algumas sortudas encontraram e encontram com parentes, amigos ou mesmo em lojas. E, de repente, altas nas vendas com relatos de preços mais altos devida à necessidade que superou o número de produtos que havia disponível . Ainda não entendo por completo, mas há pessoas vendendo câmeras analógicas e câmeras e filmes com preços em muitos contrastes.

Um novo mercado (ainda) tá aí: Câmeras analógicas antigas, renovadas, restauradas, gente que gosta e que sabe fazer isto e filmes sejam eles vencidos ou não. Inclusive o Youtube (plataforma com o maior número de canais, vídeos e qualquer coisa relacionada a fotografia analógica sob uma perspectiva audiovisual) cresce cada vez mais nesse sentido, com informações sobre filmes e câmeras, passeios e compras por thrift stores, lojas de antiguidades, experiências com e sobre filme, além de processos em c-41, preto e branco e até médios e grandes formatos. Inclusive, alguns dos canais que tratavam apenas da fotografia digital estão tentando espaço com a grande valorização do filme.

Ainda assim, tem gente querendo mais filme e mais câmeras. As gerações mais jovens, por exemplo, não tiveram essa oportuna experiência com o filme e parecem ser curiosas quanto ao processo. O que se torna uma boa mesmo pras empresa que começaram o desenvolvimento das câmeras digitais mas se perderam em nichos até não propriamente fotográficos não sendo capazes de se sustentar completamente com o filme.

A Kodak está produzindo agora mais do que 50% do que tinha como resultado cinco anos atrás com filmes fotográficos. A Fuji foi recentemente premiada por suas vendas com as câmeras e filmes instantâneos. Aos que gostam a notícia é contente e estes terão de agradecer às empresas produtoras de filme, que seguem produzindo mesmo em escalas reduzidas.

Os filmes são caros, lentos no sentido matemático do obturador, mas parecemos gostar, apesar da sustentabilidade não ser o ponto alto do filme. Será que ele continuará presente daqui há alguns anos? Precisariam as empresas continuar se readaptando? Vamos mesmo debater esse ponto? Não seria mais interessante a fotografia per se?



Mesmo dentro de uma significação geral da imagem, a fotografia e seu sentido mais íntimo, o da contemplação do tempo, da memória ultrapassa qualquer processo ou discussão sobre manipulação.

Em um mundo onde tudo parece passar tão mais rápido, o filme nos lembra de ir mais devagar, aproveitar os momentos e se for registrá-los, fazer isso um frame por vez.

E você, como vê o filme?