quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Albert Bergeret e a percepção do tempo

agosto 20, 2020 | por Adriana Vianna

Cartões postais fotográficos ​​de 1902 imaginam as 'Mulheres do Futuro'

Les Femmes de l'Avenir (Mulheres do Futuro) de Albert Bergeret

Por volta de 1900 as belas artes e a fotografia eram alvo de intensas conciliações sobre o lugar de cada uma no mundo das artes. Com linguagens distintas e, no entanto, aproximadas nos resultados visuais causados por técnicas que transitavam entre a gravura água-forte e os processos fotográficos de impressão com goma bicromatada e bromoil que acabavam por resultar em impressões de efeitos suavizados em tons médios, as constantes comparações implicavam num esforço dos fotógrafos para incluir a fotografia como arte. Nesse período a Europa estava vivendo a Belle Époque que fazia valer tempos de diversão em grandes bailes em cabarés, muito bem retratados nas belas artes. A guerra Franco-Prussiana tinha passado e era hora de refazer a espirituosidade europeia, sua autoestima, sua riqueza e fé no progresso. Paris era a cidade do luxo, e a moda feminina ostentava a beleza das formas do corpo em sua elegância. A moda feminina transitava entre os longos vestidos com espartilhos, rendas e adornos para os mais leves vestidos drapeados. De qualquer modo as mulheres estavam para a sociedade como modelos diurnos, familiares e maternos ou modelos noturnos e boêmios para a diversão.

Albert Bergeret nasceu em 1859 em Gray-la-Ville, onde seu pai, um livreiro, possuía um pequeno tipo de equipamento de impressão que ele teve oportunidade de aprender desde criança. Depois de servir ao Exército ingressou definitivamente no ramo das artes gráficas de Paris e teve as portas abertas para gráfica Royer, em Nancy, onde criou e dirigiu uma oficina de fototipia. A partir de 1896 Albert Bergeret passou a publicar seus álbuns de cartões postais colecionáveis e também publicitários onde as figuras de crianças, homens e mulheres eram ilustrativas para capturar a atenção dos turistas para os cafés, restaurantes e lojas de diferentes departamentos. O trabalho estético era de um artista, mas também era de um empreendedor, uma mistura fina entre fotografia, design e marketing - o que lhe rendeu um imenso sucesso entre os franceses.

Entre todos os álbuns especiais um se destacou por seu caráter peculiar no ano de 1902 quando publicou a série inusitada de mulheres do futuro ​​onde as figuras já não apareciam representadas como em outras séries com a moda de vestidos enlaçados por rendas e flores bem ao gosto da Belle Époque francesa. As musas foram fotografadas em um estilo de moda que representava as figuras femininas em profissões ainda não imaginadas para elas naquela época. As imagens revelaram mais um pouco da visão progressista do artista, um verdadeiro avangard em sua geração, trabalhando paralelamente aos pintores e fotógrafos. Bergeret deslocava as mulheres de uma moda pictórica típica da época e as revelava nos cartões postais num outro estilo, um pré pin-up, pois o artista não abandonou as intenções de capturar as fantasias dos homens. De qualquer forma, há algo de charmoso nessa tentativa futurista de expandir o papel das mulheres na sociedade, mesmo que na época não fosse nada além de alimentar a fantasia. Contudo, seu trabalho não tomou parte em qualquer movimento feminista, somente em 1944 as mulheres francesas tiveram direito ao voto e se tornaram aprovadas para servir em cargos profissionais que pudessem substituir os homens enviados à Guerra.


Detalhe escrito na frente: um poema:  Bela na memória enigmática / Cheia de graça e abandono / Você parece com seus cardos / Diz: “quem se defronta aí se pica!”/ E beijando seus olhos de veludo / o bretão de colarinho branco / promete amor por outro lado / E eu prefiro os seus discursos. 

 Les Femmes de l'Avenir (Mulheres do Futuro) de Albert Bergeret


         
             Recruta                                                                          Guarda florestal 

        
                Polícia                                                                 Bombeira 

      
             Música de banda                                                               Clown

        
            Marinheira                                                                        Primeiro Sargento 

        
              Segundo Tenente                                                    General 

          
Estudante                Cocheira

       Mestre das armas  
                Jóquei                                                                  Mestre das Armas 

         
               Jovem artista                                                         Jornalista 

        
            Advogada                                                                            Médica

      
             Prefeita                                                                               Deputada 






Albert Bergeret famoso e conhecido como produtor de cartões postais ilustrados, também foi um industrial da arte e membro do movimento da Escola de Nancy, centro da Art Nouveau. Seu estúdio foi o principal produtor de cartões postais da França. Em 1900, ele produziu 25 milhões de cartões e em 1903 publicou 75 milhões de cartões postais. Bergeret morreu em 1932, mas até hoje seus cartões postais ainda são famosos. Os cartões em exposição no blog vem da coleção de Monique e Gerard Lequy, que administram um site dedicado ao trabalho de Bergeret. A dupla mora na cidade de Nancy, França, onde Bergeret criou grande parte de sua obra.