terça-feira, 8 de setembro de 2020

Zine reúne fotografias tiradas por quem mora nas ruas de Belo Horizonte

setembro 08, 2020 | por Camila Camargo

Há 25 anos, o projeto “No Olho da Rua”, agora publicado em uma série de zines sem fins lucrativos, registra a vida de adolescentes que vivem nas ruas da capital mineira
No Olho da Rua, via It's Nice That

Era 1995 quando três amigos, Patrícia Azevedo, Murilo Godoy e o britânico Julian Germain, começaram o projeto “No Olho da Rua” em Belo Horizonte. A ideia era entregar câmeras a jovens moradores de rua da cidade, sem nenhuma supervisão, de forma que eles pudessem se expressar livremente, fotografando tudo aquilo que lhes chamassem a atenção e na hora que quisessem. 25 anos depois, o resultado desse trabalho pode ser visto numa série de 18 zines, organizados e publicados pela editora londrina Mörel Books.

Em entrevista ao site “It’s Nice That” Julian comentou que eles não faziam ideia de como esse projeto iria se desenvolver. Afinal de contas, de lá para cá, muitas mudanças aconteceram na vida dos idealizadores, dos jovens, da própria cidade e do próprio país. Nas palavras de Julian: “Eles eram adolescentes em 1995, incrivelmente atléticos – alguns deles já eram pais. A vida foi difícil de uma maneira inimaginável para eles”. Ao longo dos anos alguns conseguiram sair das ruas, mas muitos também desapareceram, foram presos, morreram por doenças ou violência. Eles conseguiram manter contato com 15 jovens, que hoje, próximos dos 40 anos, continuam vivendo nas mesmas ruas em que se conheceram no início do projeto.

Muitos podem se perguntar então, qual foi a importância desse trabalho para esses jovens, já que ao longo dos anos, não houve necessariamente uma melhora na condição de vida deles. Cabe aqui refletirmos o poder da fotografia no processo de eternizar memórias, situações e até mesmo pessoas. Tudo isso, como parte de uma necessidade humana dentro da construção de nossas identidades. O poder de acompanhar o crescimento de suas vidas por meio desses registros, traz aos jovens a possibilidade de reafirmar suas identidades e a própria existência que na maioria das vezes é ignorada.

Assim, entre aproximadamente 15 mil negativos coloridos de 35 mm, algumas gravações de áudio, entrevistas e vídeos, o projeto é um testemunho, uma perspectiva única, capaz de narrar as dificuldades e ilustrar os impactos da desigualdade social brasileira.