Elas estão dispostas a refletir sobre a presença da mulher fotógrafa contemporânea no quadro da fotografia. A página reúne perfis, entrevistas, artigos, imagens e referências para uma construção sólida que faça sentido o posicionamento de autoafirmação por autoridade e determinação para ocupar o espaço de protagonismo e trabalhar suas questões individuais e coletivas buscando fortalecer a representatividade feminina no diálogo social.
Sabemos que não faz muito tempo que as mulheres entraram nesse processo, mas o processo também não é muito longo, e embora o nicho masculino tenha dominado o quadro, foi pelo viés da assistência pessoal e das parcerias com os fotógrafos que muitas mulheres aprenderam e entraram na parte mágica da invisibilidade - todas parecem ter tomado gosto em estar por trás das lentes - uma boa invisibilidade, uma vez que podem mostrar o que veem e como veem. Certamente, podemos dizer que no começo houve uma lenta aceitação e inclusão social da minoria cheia de vontade e criatividade para fazer algo mais representativo, expressivo e profissional numa época que o domínio das profissões sociais ainda era dos homens. Mas, a busca do protagonismo deixou muitos exemplos e remontam desde as primeiras origens dos processos fotográficos. A partir de 1840 as fotógrafas com perfis mais artísticos experimentavam técnicas mais pictóricas e publicavam; outras, como Dora Kallmus, inauguravam estúdios fotográficos independentes.
Já por volta de 1900 as fotógrafas se envolveram com fotojornalismo e algumas foram à Guerra. No começo o pioneirismo e o papel desempenhado por elas recebia menor atenção, no entanto as mulheres sempre estiveram envolvidas e, aos poucos, o reconhecimento veio para o espaço profissional. Para citar algumas, lembramos Constance Fox Talbot (por volta de 1830), Anna Atkins (1840), Louise Franziska Möllinge (1840), Bertha Wehnert-Beckmann (1843), Sofia Carolina Ahlbom (feminista, 1860), Maria Elisabeth Hille (1863), Julia Margaret Cameron (1864), entre outras centenas de mulheres. Na lista do grupo Nítida encontram-se nas referências: Alice Austen, Inge Morath, Sophie Calle. Mary Ellen Mark, Diane Arbus, Carrie Mae Weens, Jessie Tarbox Beals, Cindy Sherman, Julia Margareth Cameron, Claudia Andujar, Berenice Abbott, Allicia D'Amico, Vania Toledo, Graciela, Iturbide, Maureen Bisilliat, Tina Modotti, Rineke Dijkstra, Angèle Etoundi Essamba, Zanela Muholi, Sara Facio, entre outras. Um time de base intelectual para as jovens fotógrafas contemporâneas darem continuidade de busca nesse protagonismo necessário para resolver suas questões atuais cujas vivências para elas são reais.
Grupo Nítida
O projeto Nítida é organizado por Camila Domingues, Deb Dorneles, Desirée Ferreira, Leli Baldissera, Lívia Auler. O grupo nasceu da vontade de mapear as fotógrafas da região de Porto Alegre, e as entrevistas colaboram para fortalecer o projeto. No site do projeto estão as entrevistas individuais que trazem uma boa oportunidade para conhecer o perfil de cada jovem fotógrafa, suas histórias e as narrativas em construção nos seus trabalhos.
Nas entrevistas está a porto-alegrense de 26 anos, Vitória Macedo, recentemente premiada com o Prêmio Aliança Francesa de Arte Contemporânea. Ela se apresenta com um trabalho que aborda em sua produção fotográfica o processo de construção de uma identidade relacionada à vivência da mulher negra na sociedade "Todas as mulheres do mundo" (2019) e no projeto "Maafa" (2019) aborda questões do deslocamento dos povos da África ao Brasil para servir em escravidão, a relação desses homens com o mar, a ideia que tinham sobre o inferno que seria suas vidas na América. O projeto aborda interpretações dos significados de vida e morte durante a Passagem do Meio a partir de uma visão afrocentrada.
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Projeto "Maafa", 2019. Fotos: Vitória Macedo |

Outra entrevistada é a fotógrafa paraense de 29 anos, Nay Jinknss, que conta sua história desde seu primeiro trabalho "Ver o Peso". Esse Ver tem sido realmente contínuo em suas questões: é o peso da balança no mercado da feira, é o peso do peixe, é o peso da fome, o peso do preconceito, o peso da necessidade de reparação histórica, o peso da documentação equivocada que prioriza o desafeto humano estimulando a competição entre as classes, gerando um povo dividido e preconceituoso para consigo mesmo e para com suas origens, sobretudo com as minorias que apesar de não saberem muito bem como lidar com a força que tem, são fortes suficiente para virar o jogo. E será que já não estão fazendo isso agora? Com objetivos de fotografar para efetiva mudança e educação social, a fotógrafa faz questionamentos desde esse ponto de vista equivocado de como a história tem sido documentada até o modo extrativista de alguns veteranos que da pobreza e das minorias produzem imagens puramente estéticas sem pretensão de colaborar efetivamente para os debates e para as mudanças sociais tão necessárias porque no fundo fazem parte de uma elite intelectual cujas preocupações são retóricas que sustentam seus nomes nas galerias de arte, e transpiram o medo de perder o status quo de documentar pelo viés dessas elites.
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Marcha das mulheres na Av. Paulista, 2020. Foto: Nay Jinknss |
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Marcha das mulheres negras em Belém, 2018. Foto Nay Jinknss |