sexta-feira, 16 de abril de 2021

A poética fotográfica no trabalho de Reinaldo Ziviani

abril 16, 2021 | por Thais Andressa

Entre o poético e o documental, o trabalho fotográfico de Reinaldo Ziviani tece narrativas urbanas no cenário são-joanense. Há muito tempo, a fotografia o acompanha e exerce um papel significativo em sua vida. De acordo com o fotógrafo artista, a poética envolvida na relação e no olhar das dinâmicas humanas nos meios urbanos é o que mais frequentemente o inspira. “Assim como imagino acontecer com quase todos, fotografar inicialmente era registrar aquilo que parece belo e incomum. Atualmente, várias abordagens e gêneros despertam-me o interesse dentre os caminhos da linguagem fotográfica, como o abstracionismo, o surrealismo, a apropriação e deslocamento, mas sem dúvida a fotografia de rua sempre se mantém como via principal de elaboração”, enfatiza.



A construção poética na imagem

A produção imagética do fotógrafo assemelha-se ao exercício de um flâneur. Para ele, observar as ruas, deambular por elas à maneira dos surrealistas, se deparando com o imprevisto que se invisibiliza aos outros olhares, é uma forma de construir poéticas e realidades. “É trabalhar intuitivamente com símbolos e sugerir de forma aberta aos que posteriormente vão observar a captura e instaurar e restaurar sentidos adormecidos na imagem. De certa forma, me sinto como Marco Polo a desenhar liricamente em suas palavras, As Cidades Invisíveis a Kublai Khan”.



O diálogo entre texto e fotografia

Em seu Instagram, Reinaldo divulga seus registros urbanos e cotidianos, estabelecendo um diálogo com textos e poemas. “Embora acredite que a imagem fotográfica se basta em si, por vezes gosto de promover encontros entre a palavra e a imagem, o diálogo entre a poesia escrita e a fotografia e isso fica perceptível em algumas publicações em minha página no Instagram”. A experiência teve início por ocasião de uma exposição em 2017, no Centro Cultural UFSJ, elaborada em conjunto com o poeta Thales Moura. Denominada Hipertexto, e materializada em uma instalação com fotos e poemas em transparências – tendo como tema a vida urbana – a obra propunha que o expectador se embrenhasse por ela e identificasse subjetivamente as conversas possíveis entre as peças. “Mas, mais do que traduzir ou interpretar ou ilustrar o que se evidencia é que a fotografia nos possibilita uma experiência que é também meditativa e, por assim dizer, espiritual. Percebo isso também em alguns daqueles que me influenciaram. Cito Cartier-Bresson e seu “instante decisivo”; Elliott Erwitt e sua prática do ócio contemplativo e bem humorado e Raghu Rai e sua conexão espiritual com o mundo ao redor e consigo através da fotografia. O conhecimento a respeito dos relatos desses grandes da fotografia, reafirma o que sinto ao fotografar e em especial nas ruas. A mágica de estar no momento certo, mas que só existe porque me instauro”, conclui.