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"Vejo meu retrato no rio... meu lugar é ali. Em relação ao objeto que você me pediu para escolher, gostaria de poder tirar a fachada da minha casa... minha casa está sob as águas da barragem de Belo Monte." © Geovan Carvalho Martins e Marilene Ribeiro |
Recentemente estive conversando com Marilene Ribeiro, fotógrafa brasileira que leva ao mundo seu projeto socioambiental realizado em cenários brasileiros de rios represados por barragens para a criação de hidroelétricas. Ela articula suas preocupações destacando a necessidade de empatia para com os que sofrem injustiças sociais e nas suas ações é possível notar um reflexo do primeiro momento do modernismo brasileiro. Aqui aparece na coautoria dos registros fotográficos que são realizados pelos entrevistados a partir da provocação que a fotógrafa faz a eles, e no uso da cor na fotografia como um elemento de aproximação da realidade. Segundo a artista, questões de identidade cultural são construídas por essas aproximações colaborativas, pelas apropriações e interferências mútuas, que, por sua vez, são refletidas entre as linguagens artísticas das quais ela e seus colaboradores se apropriam para expressão das denúncias que reportam através de imagens em fotografias, vídeos, textos e desenhos - fluindo numa grande instalação que tem se desdobrado em outras poéticas fotográficas, nos prêmios que dão visibilidade ao Projeto e o colocam dentro do debate internacional a partir do debate brasileiro, consumando outras premissas do nosso modernismo que estimulou o olhar para dentro de seu próprio país e suas questões urgentes. Lembramos que o movimento teve como símbolo um Abaporu pintado por Tarsila do Amaral. Com uma sugestão de melancolia, a figura sentada na terra, plantada uma perspectiva que projeta na sua pose reflexiva a cabeça para longe do espectador, sob um céu solar na companhia de uma planta, um único cacto que representa o sertão, o deserto, a escassez, a solidão.
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"'Nossa ilha, nossas praias de areia, nossas árvores, nossa casa ... tudo se foi. A barragem de Belo Monte só nos trouxe a morte." Local escolhido por Delcilene e Maria (mãe de Delcilene): seu antigo quintal na Ilha do Cajueiro (parcialmente submerso pela represa de Belo Monte). Objeto escolhido por Delcilene: cajus. Objeto escolhido por Maria: areia. © Delcilene Gomes da Silva, Maria das Graças da Silva e Marilene Ribeiro |
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"Eu quero que minha fotografia seja tirada em águas mortas. A lâmpada vai representar o propósito de toda essa destruição. É justo matar tudo só para conseguir eletricidade?!" © Eliezé dos Santos Souza e Marilene Ribeiro |
Projeto “Dead Water”
O projeto “Dead Water” conta a história de barragens e hidroeletricidade a partir da perspectiva das pessoas que foram afetadas por esses empreendimentos no Brasil, combinada com a experiência de Marilene Ribeiro como fotógrafa e ecóloga. O Projeto foi realizado em parceria com o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
Ações recentes:
- Em 2021, o PHmuseum fez sua indicação como uma das 12 fotógrafas para se observar no mundo.
- Em 2020 recebeu o Prêmio Descobertas PHotoEspaña.
- No Brasil, Marilene Ribeiro participou do Festival de Fotografia de Paranapiacaba e do Foto em Pauta 2020.
Próximas ações:
- Dia 8 de maio fará uma palestra online no Vozes da América Latina sobre "Os Direitos da Natureza e dos Povos Indígenas".
- Dia 15 de maio estará ao vivo no Fotofalando, programa do Resumo Fotográfico, para uma conversa de artista e entrevista.
- Em breve, fará uma palestra online no Festival de Fotografia Paranapiacaba.