sexta-feira, 28 de maio de 2021

Mari Mahr, fotografia tableau e hiper realista

maio 28, 2021 | por Adriana Vianna

Documentando o que quer contar, ela constrói uma enorme arquitetura de memórias, desenvolvendo conversas íntimas a partir de objetos pessoais herdados da família e de histórias de mulheres inspiradoras, como Lili Brik.

"Heani at Crear", 2007

Mari Mahr nasceu em 1941 em Santiago, filha de judeus húngaros que se refugiaram no Chile durante a Segunda Guerra Mundial. Após a guerra, a família voltou para Budapeste e Mari foi estudar fotojornalismo influenciada pelo cinema da Novelle Vague - movimento francês criado por cineastas avessos aos modelos narrativos do cinema clássico, entre outras premissas. Em 1973 ela migrou para Londres onde vive desde então. 

Foi em 1989 que o crítico Jean-François Chevrier cunhou a ideia de forme tableau como uma maneira de “acentuar a importância da realidade como quadro" na fotografia contemporânea do final do século XX. Associando à síntese, temos o termo teatral tableau vivant que remete à pintura viva, quase pantomina, que nos primórdios da fotografia consistia em colocar as figuras posadas como se estivessem a posar para uma pintura. No cinema (tableu shot) existem alguns exemplos em Sergei Parajanov, Chantal Akerman, Wes Anderson, Peter Greenaway ("O cozinheiro, o ladrão, sua esposa, e o amante", entre outros), Luis Bunuel, por exemplo, na película "Veridiana" quando um grupo de mendigos encena o quadro "A Última Ceia" de Leonardo Da Vinci.

No conjunto da obra, o trabalho de Mari é um exemplo muito próximo da fotografia tableau e 'hiper-narrativa', pois não se trata apenas do registro de um instante; trata-se de ter um foco no ponto de partida visual, que não está na frente da câmera, mas atrás dela - na mente e nas emoções da artista. Seu trabalho é um exemplo de que a ideia da qual se cria uma fotografia para fazer uma pausa, contemplar e refletir, é um processo laborioso de edição e elaborar diversos conceitos para contar uma história, não apenas um registro documental e linear do presente imediato. A ênfase se encontra no processo da narrativa que constitui a obra a partir da realidade como ficção.

É preciso entrar no trabalho de Mari com a certeza que o tempo será pouco para tantos desdobramentos. Seu trabalho é extenso e laborioso, mas não é pretensioso, pelo contrário, afasta-se de qualquer pretensão revolucionária. Suas imagens combinam um forte senso de individualidade com consciência global, abordando questões universais sobre pertencimento. Os objetos retratados, que associa aos diferentes lugares, culturas e línguas de onde ela vem, são os vasos da sua história.

"Alegórico" da série "Palavras, palavras, palavras", 2007

Nessa série mais recente, Mari reúne os dicionários que tem em casa e relaciona os objetos familiares às palavras e com os lugares onde viveu. "Alegórico" está no dicionário Francês-Inglês.

"Contos de dentro de uma mala", 2002

Nessa série, também no estilo tableau, Mari trata de narrar sua história de vida mostrando malas e objetos preciosos que acompanharam a viagem de sua família para o Chile, situação semelhante que se repetiu vinte anos depois com sua filha, quando a levou de Budapeste para Londres. Na mala são apresentadas várias histórias tradicionais de brinquedos de várias gerações da família.

"Chances de Vida", 1996 (série com 25 imagens)

Nessa série Mari narra sobre como a história da Europa afetou a história familiar, de modo que o encontro de seus pais, a fuga para o Chile, criaram contornos para o nascimento e seu futuro de influências culturais da arquitetura modernista, espanhol latino-americano, húngaro, raízes judaicas e valores cristãos que tornam-se os blocos de construção de sua existência.

"Minha filha, minha querida", 1992

Nesse ano de 1992, Mari construiu um palco para conversar com a filha e transmitir as culturas familiares. O objeto foi plantado com um fundo fotográfico de paisagem chilena e nele aparecem fotografias, livros, frutas, dinheiro, tabuleiro de xadrez, e também alguns vazios.

"Alguns dias em Genebra", 1985 




A série de 1985 revela uma ressignificação das memórias da infância quando podia olhar para os telhados e ruas com seus paralelepípedos e sonhar. Nas imagens, em closer, vemos uma Mari gigante, adulta, na relação figura fundo, expressando sensações que nós já tivemos em ocasiões que visitamos espaços que frequentávamos quando crianças.

Resumo de Aula. Visite o site para saber mais sobre Mari Mahr.