Documentando o que quer contar, ela constrói uma enorme arquitetura de memórias, desenvolvendo conversas íntimas a partir de objetos pessoais herdados da família e de histórias de mulheres inspiradoras, como Lili Brik.
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"Heani at Crear", 2007 |
Mari Mahr nasceu em 1941 em Santiago, filha de judeus húngaros que se refugiaram no Chile durante a Segunda Guerra Mundial. Após a guerra, a família voltou para Budapeste e Mari foi estudar fotojornalismo influenciada pelo cinema da Novelle Vague - movimento francês criado por cineastas avessos aos modelos narrativos do cinema clássico, entre outras premissas. Em 1973 ela migrou para Londres onde vive desde então.
Foi em 1989 que o crítico Jean-François Chevrier cunhou a ideia de forme tableau como uma maneira de “acentuar a importância da realidade como quadro" na fotografia contemporânea do final do século XX. Associando à síntese, temos o termo teatral tableau vivant que remete à pintura viva, quase pantomina, que nos primórdios da fotografia consistia em colocar as figuras posadas como se estivessem a posar para uma pintura. No cinema (tableu shot) existem alguns exemplos em Sergei Parajanov, Chantal Akerman, Wes Anderson, Peter Greenaway ("O cozinheiro, o ladrão, sua esposa, e o amante", entre outros), Luis Bunuel, por exemplo, na película "Veridiana" quando um grupo de mendigos encena o quadro "A Última Ceia" de Leonardo Da Vinci.
No conjunto da obra, o trabalho de Mari é um exemplo muito próximo da fotografia tableau e 'hiper-narrativa', pois não se trata apenas do registro de um instante; trata-se de ter um foco no ponto de partida visual, que não está na frente da câmera, mas atrás dela - na mente e nas emoções da artista. Seu trabalho é um exemplo de que a ideia da qual se cria uma fotografia para fazer uma pausa, contemplar e refletir, é um processo laborioso de edição e elaborar diversos conceitos para contar uma história, não apenas um registro documental e linear do presente imediato. A ênfase se encontra no processo da narrativa que constitui a obra a partir da realidade como ficção.
É preciso entrar no trabalho de Mari com a certeza que o tempo será pouco para tantos desdobramentos. Seu trabalho é extenso e laborioso, mas não é pretensioso, pelo contrário, afasta-se de qualquer pretensão revolucionária. Suas imagens combinam um forte senso de individualidade com consciência global, abordando questões universais sobre pertencimento. Os objetos retratados, que associa aos diferentes lugares, culturas e línguas de onde ela vem, são os vasos da sua história.
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"Alegórico" da série "Palavras, palavras, palavras", 2007 |
Nessa série mais recente, Mari reúne os dicionários que tem em casa e relaciona os objetos familiares às palavras e com os lugares onde viveu. "Alegórico" está no dicionário Francês-Inglês.
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"Contos de dentro de uma mala", 2002 |
Nessa série, também no estilo tableau, Mari trata de narrar sua história de vida mostrando malas e objetos preciosos que acompanharam a viagem de sua família para o Chile, situação semelhante que se repetiu vinte anos depois com sua filha, quando a levou de Budapeste para Londres. Na mala são apresentadas várias histórias tradicionais de brinquedos de várias gerações da família.
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"Chances de Vida", 1996 (série com 25 imagens) |
Nessa série Mari narra sobre como a história da Europa afetou a história familiar, de modo que o encontro de seus pais, a fuga para o Chile, criaram contornos para o nascimento e seu futuro de influências culturais da arquitetura modernista, espanhol latino-americano, húngaro, raízes judaicas e valores cristãos que tornam-se os blocos de construção de sua existência.
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"Minha filha, minha querida", 1992 |
Nesse ano de 1992, Mari construiu um palco para conversar com a filha e transmitir as culturas familiares. O objeto foi plantado com um fundo fotográfico de paisagem chilena e nele aparecem fotografias, livros, frutas, dinheiro, tabuleiro de xadrez, e também alguns vazios.
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"Alguns dias em Genebra", 1985 |

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