Apropriando-se de objetos da cultura Yoruba e da sensibilidade do barroco italiano, o fotógrafo nigeriano tornou-se um exemplo clássico na fotografia contemporânea para repensar, reviver e ressignificar a identidade ancestral

Ao capturar esses momentos de intimidade e comunhão, Fani-Kayode apresentou a sexualidade queer como um ato de cura, até mesmo como um meio de sobrevivência pessoal e política.
A família Kayode era guardiã do Santuário das Divindades Yorubas e sacerdotes de Ifé. Rotimi Fani-Kayode (1955–1989), nascido na Nigéria, migrou para a Inglaterra aos 12 anos de idade com a família para escapar da Guerra Civil Nigeriana. Logo compreendeu sua herança cultural, ele sabia exatamente o que era e o que representava, e como seu estilo de vida e trabalho afetariam as pessoas ao seu redor. Em 1983, Fani-Kayode obteve um Mestrado em Belas-Artes e Fotografia nos Estados Unidos e voltou à Inglaterra para se dedicar à fotografia. Ajudou a fundar a organização Autograph: Association of Black Photographers para apoiar fotógrafos negros, onde podemos encontrar mais trajetórias da diáspora. Morreu em dezembro de 1989, aos 34 anos.
Durante sua breve carreira de seis anos ele produziu um complexo corpo de trabalho fotográfico, explorando temas e tensões da etnia, colonialismo, sexualidade, espiritualidade e, na autorrepresentação, expressou as tensões causadas entre sua sexualidade e sua educação Yoruba. Seus retratos são magistralmente encenados e trabalhados, autobiográficos, às vezes discretamente monocromáticos e outras vezes ricos em cores saturadas - afirmações visuais poderosas e resolutamente ambíguas - tratando a nudez do masculino como força de poder e desejo. Sua figura seminal na fotografia de arte contemporânea traz uma ênfase importante na política cultural da diferença.
Ele não era um afro-essencialista, passou a maior parte de sua vida no Ocidente. Ele era um homem africano com uma câmera que dedicou tempo e esforços necessários para desenvolver sua técnica. Fani-Kayode não era um jovem ambicioso, mas entendia a fotografia tanto em termos técnicos quanto históricos. Ele não esperava um caminho rápido para o sucesso. Ele queria que seu trabalho tivesse impacto e, ao mesmo tempo, educasse no Ocidente e no 'Terceiro Mundo'.
“Tanto estética como eticamente”, disse. “Procuro traduzir minha raiva e meu desejo em novas imagens que irão minar as percepções convencionais e que podem revelar mundos ocultos. Muitas das imagens são vistas como sexualmente explícitas - ou mais precisamente, homossexualmente explícitas. Eu torno minhas fotos homossexuais de propósito. Os homens negros do Terceiro Mundo não revelaram nem aos seus próprios povos nem ao Ocidente um certo fato chocante: eles podem desejar um ao outro".



Na fotografia Adebiyi (cerca de 1989), aparece uma máscara com as listras de Exu, o deus trapaceiro da mitologia iorubá. No entanto, a máscara não é tradicional ou “autêntica” na forma, mas um molde, transformado em um significante irônico e zombeteiro da “alteridade” africana que subverte os tropos primitivistas do modernismo europeu.

Em outras imagens, presságios de morte com erotismo. "Untitled" (1989) assume uma exuberante sensibilidade barroca, retratando dois homens envoltos em um rico tecido de veludo, abraçados em dramático claro-escuro.




"Identidade é sempre uma conversa inacabada"
Professor Stuart Hall (Autograph Org)



"A arte de um povo é a gênese de sua liberdade"Claudia Jones (Autograph Org)