sexta-feira, 4 de junho de 2021

Diana Markosian, o que me toca em você

junho 04, 2021 | por Adriana Vianna

Desde 2012, Diana Markosian vem colecionando prêmios e exposições individuais internacionais com uma jornada de fotografias que expandem os conceitos de narrativa autoral. Na prática ela toma imagens do cotidiano, integra o passado e o presente, remete o arquivo na ficção, para trazer à pauta questões femininas nas questões familiares da cultura, e que, de um modo abrangente alcançam e atravessam nossas realidades sociais.


Partindo de dentro de casa e das relações delicadas que a história revela, ela nos remete à história de sua própria família. A mãe, em 1996, decidiu partir de Moscou para a América com duas crianças, abandonando a União Soviética e a família com o marido - ambas em decadência. O projeto “Santa Bárbara” narra esse evento de modo intimista com fotografias de arquivo e fotografias com cenas montadas que representam as circunstâncias vividas. É nesse projeto que Diana reconsidera a atitude ousada da mãe colocando-se no lugar dela como mulher, pela primeira vez.


Como Diana tinha 7 anos de idade quando a migração aconteceu, a presença da ausência do pai ficou explícita e sem respostas que pudessem satisfazer. No projeto "Inventando meu pai" a revelação que vem a tona é de um pai que já vivia desaparecendo de tempo em tempo, deixando-os sozinhos em casa, e que no álbum de família ele já tinha um lugar reservado de ausência. Essa revelação trouxe maior compreensão para a atitude da mãe que sempre lhe dizia: "esqueça-o".


Contudo, depois de 15 anos rodando o mundo, fotografando sobre a vida regrada das meninas da Chechênia, sobre as tradições do culto e adoração mariana na Bósnia, sobre os ritos de passagem das meninas na quinceañera em Cuba, sobre o encontro com o mar e a liberdade das refugiadas iraquianas na Turquia, entre outros projetos humanísticos, Diana foi até o pai.

E nesse encontro de reconhecimento, estranhamento, conflitos emocionais, surgiu uma relação de afinidade entre ambos que, sobretudo, permeia o desejo de criação artística. Nasceu desse encontro o projeto "Manhãs (com você)" . Sentados à mesa do café, entre conversas muitas vezes sem palavras é que as imagens são tomadas em cenas do dia a dia. Passando por tensões no resgate da memória, eles são envolvidos pelo ato criativo, que fala tão alto a ponto de se deixarem ali diante da câmera que revela a transformação que a arte pode fazer em suas vidas tão distanciadas e tão aproximadas agora, embora a procura não tenha fim. 



Para conhecer mais sobre o trabalho de Diana, acesse seu site ou Instagram.