sexta-feira, 26 de março de 2021

Versos do feminino nas fotografias de Leonard Nimoy

março 26, 2021 | por Adriana Vianna

Inspirado na fotografia de Herb Ritts

Leonard Nimoy ficou famoso por interpretar o inesquecível personagem Spock em “Star Trek”. Meio humano e meio vulcano, Spock contornava as emoções e sentimentos originários de sua parte humana com o raciocínio lógico herdado da origem vulcana. O homem por trás do personagem, entre outras tantas atividades, foi um excelente fotógrafo no gênero de nu artístico, contornando padrões de beleza com sensibilidade e espirituosidade - quase o verso de seu personagem - em Nimoy, os sentimentos humanos é que contornam a lógica da modernidade, que busca enquadrar os corpos femininos em rótulos mais fáceis de ler.

No ano de 2002, Nimoy lançou um livro intitulado “Shekhina”, com fotografias femininas. A palavra é um termo do Talmude e vem do hebraico para ressignificar as manifestações visíveis e audíveis da presença da Deidade na Terra. Com o tempo “Shekhina” passou a representar muito mais - uma contraparte mais suave e empática de Deus, que podia argumentar pelo bem da humanidade, confortar os pobres, doentes, e ser a Mãe de Israel. Essa memória cultural, herdada da família na infância, emergiu nessa série mitológica e provocativa. Se por um lado Nimoy queria explorar algum aspecto feminino de Deus na forma humana da mulher, incluiu no verso questões da sensualidade e sexualidade em cenas sedutoras como essência da manifestação divina - o que causou um alvoroço entre seus fãs conservadores e revolucionários. A questão é que, para Nimoy, a sexualidade e espiritualidade não são segregadas e isso se mostra visível na fascinação pelo corpo feminino como elemento de tentação e de transcendência que podem remeter à sublimação do desejo sexual em aspiração espiritual.





No ano de 2010, Nimoy lançou o livro “The Full Body Project”, com modelos femininos que subvertem o perfil do padrão de beleza vigente no mundo da moda. A proposição do artista foi colocar em questão o que é belo ou quando é belo. As mulheres que ele exibe nessa série fotográfica fazem parte de um grupo teatral que se apresenta em cenas burlescas, “Fat Bottom Revue”. A natureza, o grau de figurino e a nudez em suas apresentações são determinados pelo local e pelo público, que pode variar de festas de aniversário de crianças a despedidas de solteiro. Com esse grupo projetando a própria imagem numa autoestima forte e contracultura, ambos trabalhos, o delas e o dele, fazem demonstração sobre a beleza e a sexualidade a partir de um ponto de vista espirituoso - ou seja, há sensualidade também no bom humor de uma mulher.

Inspirado na pintura “As Três Graças”, de Raphael Sanzio

Inspirado na fotografia “Elles arrivent”, de Helmut Newton

Inspirado na pintura “A Dança”, de Henri Matisse 

 Inspirado na pintura “Nu Descendo a Escada”, de Marcel Duchamp