sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Depois de nós, o dilúvio - as consequências humanas do aumento do nível do mar

fevereiro 04, 2022 | por Adriana Vianna

A obra traz impacto e reflexão por meio de uma jornada visual que revela a estética da arte fotográfica a serviço da documentação

Maré do rei na praia de Miami. Os trabalhadores estão verificando se o sistema de drenagem está bloqueado, mas concluíram que era água do mar. Fotografia: Kadir van Lohuizen | NOOR | MCNY

Kadir van Lohuizen é um fotojornalista holandês conhecido no mundo inteiro por seu trabalho documental em vários conflitos globais, sobretudo na África. É também conhecido por seus projetos de longo prazo sobre os sete rios do mundo, a indústria de diamantes, a imigração nas Américas, a forma como seis megacidades lidam com o lixo, e a elevação do nível do mar. Ele ganhou vários prêmios e é o co-fundador da agência fotográfica NOOR Imagens, por onde divulga seus projetos, cursos e palestras.

Em seus trabalhos ele busca apontar para onde os problemas crescem e carecem de políticas públicas globais. Para chamar atenção de mais um tema que parece irreversível, dado o descaso dos governos, Lohuizen lançou, no ano passado, um livro que traz mais pontos de vista para o debate da crise ambiental.

"After Us the Deluge: The Human Consequences of Rising Sea Levels" é a síntese de um projeto fotográfico extenso e muito bem documentado durante sua viagem pelo mundo. Visitando lugares e conhecendo pessoas que já sofrem as consequências da elevação do nível do mar, ele mostra ensaios fotográficos sobre seis regiões do planeta: 

                         Groenlândia, EUA, Bangladesh, Holanda, Reino Unido e Pacífico.

A obra traz impacto e reflexão por meio de uma jornada visual que revela a estética da arte fotográfica a serviço da documentação. Segundo o que está claro na obra, o mar está subindo e muitos não veem porque o fenômeno parece discreto. Contudo, as imagens reveladas por Lohuizen mostram claramente que as populações que vivem nessas regiões estão enfrentando as adversidades de se tornarem povos despatriados.

Crianças brincam na praia em Temwaiku, uma vila vulnerável no sul de Tarawa, na República de Kiribati, onde sacos de areia foram colocados para tentar conter o oceano. Fotografia Kadir van Lohuizen | NOOR | MCNY

As imagens que o fotógrafo conseguiu capturar lhe causaram tamanho espanto a ponto de associar a situação com o dilúvio bíblico, cujo drama histórico acontece quando se revela o afogamento da humanidade. ​É por meio dessa associação, nada metafórica, que o fotógrafo vem construindo argumentos para alertar a sociedade sobre a emergência de investir em soluções ambientais.
“Falamos sobre a crise climática, parece que sempre pensamos que não seria tão ruim quanto previsto”, diz Lohuizen. “É estranho que não ajamos, embora saibamos.”
As ações de ativistas, artistas, jornalistas, fotógrafos, fotojornalistas, escritores, cientistas, entre outros envolvidos, em grande ou pequena escala, parece não passar de um zumbido nos ouvidos dos governos. Os investimentos federais, como se vê em jornais e revistas especializadas, parecem fomentar a pesquisa por outro planeta onde se possa dar continuidade a espécie humana - como se já tivessem desistido de resolver os imensos e terríveis problemas ambientais e socioeconomicos da humanidade na Terra. 
“Estima-se que no futuro (próximo) 50 milhões de pessoas precisem ser evacuadas para terrenos mais altos. Sendo tão densamente povoada, a terra já é muito escassa. Estima-se que 6,5 milhões de pessoas já foram deslocadas devido às mudanças climáticas.” - Lohuizen
Para conseguir imagens expressivas, Lohuizen trabalhou de acordo com a tabela de marés. A maior parte das imagens foram feitas durante a maré alta, quando pode-se ver as águas do mar ultrapassando os limites e invadindo áreas urbanas. No inicio do projeto ele usou drones e até uma pipa onde anexava uma câmera, enquanto as tomadas aéreas mostram a relação entre o aumento das águas e as cidades litorâneas, outras mostram as tentativas dos moradores de deixar esses locais.

Ilha Pelican, entre as ilhas barreira de Fire Island e Smith Point.Fotografia: Kadir van Lohuizen | NOOR | MCNY

Uma mãe e sua filha em sua antiga vila de Bainpara. Algumas casas permanecem, mas a maioria foi engolida pelo ciclone Alia em maio de 2009. Depois que a água recuou, nunca mais voltou aos seus níveis antigos. No distrito de Dakop, 60.000 pessoas ainda estão deslocadas, quase toda a população. Fotografia: Kadir van Lohuizen | NOOR | MCNY

Em 8 de janeiro de 2019, a Holanda foi atingida por uma forte tempestade associada a uma maré viva. A ilha de Terschelling foi duramente atingida e os cais e o porto de West Terschelling inundaram. Embora isso já tenha acontecido antes, esses eventos estão começando a ocorrer com muito mais frequência. O oeste de Terschelling não está protegido e o futuro aumento do nível do mar colocará em risco as áreas baixas. Fotografia: Kadir van Lohuizen | NOOR | MCNY



Referências: