quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Fotolivro aborda a sutileza dos lares em comunidade de Belo Horizonte

novembro 30, 2022 | por Resumo Fotográfico

Fotos de Cyro Almeida revelam o interior das residências, erguidas na última década, junto à urbanização da comunidade, que hoje abriga comércios e centro de saúde, mantendo acesa a luta por vidas dignas



Neste fim de semana, 3 e 4 de dezembro, acontece em Belo Horizonte o lançamento do livro “Os dentros”, do fotógrafo Cyro Almeida, que aborda a sutileza dos lares na comunidade Dandara. Os eventos de lançamento acontecem no sábado (3), na própria comunidade, e no domingo (4), no Mercado Novo, ambos com entrada gratuita.

A relação de Cyro Almeida com a comunidade Dandara teve início em 2010, quando o artista conheceu o movimento das ocupações urbanas. Um ano depois, impactado pela grandiosidade da ação das famílias que se propuseram a estabelecer moradia no terreno ocioso de 33.000 m² na Região Pampulha, Cyro habitou, por três meses, o espaço ainda recém ocupado. Na ocasião, ele fotografou as iniciadas construções e as dinâmicas coletivas do local. As fotografias resultaram, em 2014, em exposição e fotolivro.

Agora, mais de uma década após expressar em imagens o processo de urbanização da Dandara, Cyro aproxima-se das vidas privadas de seus habitantes. O fotolivro “Os dentros”, resultado de sua investigação, traz o ambiente doméstico dessas famílias, como as decorações das residências, incluindo a escolha dos móveis, plantas e ornamentos, revelando um pouco mais sobre a realidade, as necessidades e as perspectivas dos moradores em busca dos próprios direitos e do sonho por uma vida melhor possível. Para tanto, o artista se hospedou mais uma vez na comunidade, entre setembro e novembro de 2021.
“Tradicionalmente existe na fotografia documentária uma ênfase aos espaços públicos e contextos de trabalho das pessoas retratadas. Nesta minha nova série, acessando o interior das moradias, quis mostrar um pouco como as famílias de Dandara se relacionam com um espaço de relaxamento, lazer, de uma vida íntima, de estar em casa, de ter sua casa”, diz Cyro.


Hoje composta por cerca de 2.500 famílias, a comunidade Dandara foi fundada por aproximadamente 150 famílias sem teto, organizadas pelas Brigadas Populares e pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que reivindicavam a função social de uma terra ociosa, soterrada por dívidas de impostos e negligenciada pelo poder público até então. Neste contexto, desde o início da ocupação, Dandara foi planejada pelos moradores com lotes iguais, de 180 m², o que denota um apurado senso comum de planejamento urbanístico, em resposta ao abandono do terreno.

“Em 2011, havia um grande clima de tensão inserido na vida das pessoas. Isso porque elas tinham que erguer suas casas, levantar as paredes de tijolos, colocar telhas, tendo o mínimo de conforto e dignidade. Porém, com o risco iminente de despejo, não era seguro fazer maiores investimentos sob pena de perder o que haviam construído”, conta Cyro. Após uma década de disputa judicial e muitas ameaças, os moradores puderam permanecer no terreno a partir de 2020, mediante determinação da Justiça para desapropriação da área e acordo entre o Estado e os antigos proprietários.

Do início da ocupação para cá, a precariedade das pioneiras barracas de lona começaram a dar lugar a construções mais rígidas, em alvenaria, com acabamentos e pinturas. Com o reconhecimento do poder público e o crescimento do número de famílias organizadas, a comunidade conquistou parte das ruas asfaltadas, rede elétrica, coleta de esgoto, abastecimento de água e a implementação de um centro municipal de saúde.

“Para além de toda uma estrutura com ruas asfaltadas, centro de saúde, rede elétrica e esgoto, há hoje, em Dandara, uma variedade de comércios e serviços, muitas casas têm muros e, diante das mudanças, essas casas também foram sendo enfeitadas, elaboradas e melhoradas”, justifica Cyro.



Livro de parede

“Os dentros” foi idealizado pela intenção de se criar uma produção artística e histórica sobre a vida da comunidade e, ao mesmo tempo, recuperar um objeto tradicional para o imaginário das famílias brasileiras: o calendário de parede. “O fotolivro, que foi produzido no formato de calendário, cumpre dois papéis: um utilitário e outro conceitual. Do ponto de vista utilitário, o calendário não será apenas um objeto apreciado, mas também manejado, pela tradição de colocá-lo na parede e com a passagem das folhas trocar, mês a mês, o que será visto ao longo do ano", explica Cyro.

"Do ponto de vista conceitual, ele retorna para os lugares de onde as fotografias vieram (o interior das casas) e destaca datas importantes da comunidade Dandara e para os movimentos sociais, que merecem ser relembradas. Minha pretensão não é fazer um comparativo entre as fotos que fiz antes e agora. Há dez anos, eu quis mostrar o espaço público e o contexto no qual aquelas casas estavam sendo erguidas. Agora, minha pretensão foi mostrar a intimidade do lar, a decoração, os objetos, a vida que se instalou em Dandara”, completa o autor.

O fotolivro possui 48 páginas, no tamanho 25x36 cm, com projeto gráfico assinado por Clarice Lacerda e texto da historiadora Josemeire Alves Pereira. A tiragem de 1.000 exemplares terá metade da distribuição destinada aos moradores da comunidade Dandara, e a outra metade disponível para vendas na Livres Livraria, no Mercado Novo, e na Livraria do Cine Belas Artes — além de pedidos realizados diretamente com o autor via Instagram.



SERVIÇO
Lançamento do fotolivro “Os dentros”, de Cyro Almeida

3 de dezembro de 2022, sábado - de 16h às 20h
Bar Baiano, Comunidade Dandara (Rua dos Quilombos, 140, Trevo)
Entrada franca

4 de dezembro de 2022, domingo - de 11h às 15h
Livres Livraria - Mercado Novo (Av. Olegário Maciel, 742, Centro - 3°andar, corredor E, loja 3085) - Entrada franca
Publicado em: