sexta-feira, 23 de maio de 2025

Morre o fotógrafo Sebastião Salgado

maio 23, 2025 | por Resumo Fotográfico

Sebastião Salgado (1944-2025) por Sean Gallup

O fotógrafo Sebastião Salgado morreu aos 81 anos nesta sexta-feira (23), em Paris, na França. Ele enfrentava problemas decorrentes da malária. O artista ficou conhecido internacionalmente por seus trabalhos em preto e branco, priorizando a abordagem de temas humanitários, sociais e ambientais, viajando por mais de 120 países para apresentar seus trabalhos, que se transformaram em exposições, livros e publicações de imprensa.
"Sebastião foi muito mais do que um dos maiores fotógrafos de nosso tempo. Ao lado de sua companheira de vida, Lélia Deluiz Wanick Salgado, semeou esperança onde havia devastação e fez florescer a ideia de que a restauração ambiental é também um gesto profundo de amor pela humanidade. Sua lente revelou o mundo e suas contradições; sua vida, o poder da ação transformadora", escreveu o Instituto Terra.
Sebastião Ribeiro Salgado Júnior nasceu em 1944, em Conceição do Capim, distrito do município de Aimorés, no interior de Minas Gerais. Formou-se em Economia pela Universidade Federal do Espírito Santo, mestre pela Universidade de São Paulo e doutor pela Universidade de Paris. Casou-se com Lélia Wanick, com quem teve dois filhos, Juliano e Rodrigo. Em 1968, trabalhou no Ministério da Economia.

Em 1969, engajados no movimento de esquerda em plena Ditadura Militar no Brasil, Salgado e Lélia emigraram para Paris. Em 1971, ele concluiu seu doutorado e passou a trabalhar como secretário para a Organização Internacional do Café (OIC) enquanto Lélia estudava arquitetura. Foi durante as viagens de trabalho para a África que realizou sua primeira sessão de fotos. Em 1973, retornam a Paris e Salgado passa a se dedicar totalmente à fotografia.

Sebastião Salgado e Lélia Wanick

A carreira como fotojornalista começou trabalhando para as agências de fotografia Gamma e Sygma. Entrando para a agência Gamma, em 1974, realizou uma série de imagens sobre a Revolução dos Cravos em Portugal e a guerra civil em Angola e Moçambique. Na agência Sygma (1975-1979), viajou por mais de 20 países da Europa, África e América Latina, cobrindo vários eventos. Em 1979, tornou-se membro da renomada agência Magnum, fundada em 1947 por Robert Capa e Henri Cartier-Bresson, entre outros.

Em 1986, publicou o livro “Autres Ameriques” sobre camponeses na América Latina. No mesmo ano, passou a trabalhar para a Organização Humanitária Médicos sem Fonteiras. Salgado retratou durante 15 meses os refugiados da seca e o trabalho dos médicos e enfermeiros voluntários na região africana de Sahel da Etiópia, Sudão, Chade e Mali. As fotos resultaram no livro “Sahel – L'Homme en Détresse”. A série “Workers”, sobre trabalhadores em escala mundial, entre 1987 a 1992, correu o mundo em exposição.

Entre 1993 e 1999, Salgado dedicou-se a retratar a emigração massiva de pessoas no mundo todo, dando origem às obras “Êxodos" e “Retratos de Crianças do Êxodo”, em 2000, ambos alcançando grande sucesso mundial. No ano seguinte, no dia 3 de abril de 2001, Salgado foi indicado para ser representante especial do UNICEF. Em colaboração com a entidade internacional, o fotógrafo doou os direitos de reprodução de várias fotografias suas para o Movimento Global pela Criança.



Gênesis

Em 2013, Salgado apresentou os resultados do seu ambicioso projeto “Gênesis”, que impressionou pela escala monumental e o apurado uso do preto e branco. Nele, o fotógrafo visitou as regiões mais afastadas do contato com o homem civilizado, por mais de 30 países. Ao longo de oito anos, ele conviveu com tribos de costumes ancestrais e viu paisagens que poucos tiveram a oportunidade de conhecer.

Além da exposição fotográfica que rodou o Brasil e o mundo, apresentando cerca de 250 fotos, o projeto contempla o livro de mesmo nome. Publicado pela Taschen, com 520 páginas o livro tem 33,50 x 24,30 cm e pesa 4 kg. O projeto conta ainda com um documentário, “A Sombra e a Luz”, dirigido pelo cineasta alemão Win Wenders, com colaboração do filho do fotógrafo, Juliano Salgado.

“Gênesis” representou algumas mudanças na trajetória do fotógrafo brasileiro. Pela primeira vez, Salgado registrou imagens de animais e de paisagens naturais. Uma decisão que ele atribuiu à profunda desolação em que afundou ao cobrir o genocídio em Ruanda, em 1994, durante o qual pelo menos 800 mil pessoas foram assassinadas. Parte das fotos que retratam os efeitos do genocídio compõem o livro “Êxodos”.


Outra mudança foi que o projeto marcou a adesão de Sebastião Salgado ao digital. Uma transição forçada, uma vez que já não suportava mais os transtornos causados pelos aparelhos de raios-x dos aeroportos. Porém, apesar de adotar a nova tecnologia, continuou fotografando do mesmo jeito que fazia com filme, editando as fotos do projeto em folhas de contato, com lupa.
“Suas imagens agradavelmente em preto e branco são compostas com muita minúcia, são dramaticamente teatrais e apresentam um uso da luz semelhante ao da pintura”, escreve a jornalista Susie Linfield.


Cavaleiro Sebastião Salgado

Em 2016, Sebastião Salgado foi nomeado cavaleiro da Légion d’Honneur, honraria concedida pelo governo francês a personalidades de destaque, desde os tempos de Napoleão. No ano seguinte, o fotógrafo tornou-se o primeiro brasileiro a integrar a Academia de Belas Artes da França, instituição que tem origem no século XVII e uma das cinco academias que compõem o Institut de France, templo da excelência francesa nas artes e nas ciências.