quinta-feira, 13 de maio de 2021

Autorretratos como catarse

maio 13, 2021 | por Adriana Vianna

Desde o Renascimento e o Barroco, a prática artística de retratos e autorretratos rompeu com as formalidades da arte encomendada, deixando à fotografia um legado de expressões autorais

No campo feminino, temos muitas fotógrafas atuando no segmento da auto representação com diversas finalidades: do lúdico ao político, do sonho à superação da realidade. Na Oficina de Retratos e Autorretratos que vamos ministrar neste mês de maio será oferecido um amplo repertório poético com 50 referências contemporâneas para serem apreciadas em casa. Até o dia da oficina, vamos demonstrar alguns exemplos aqui no Resumo Fotográfico.

Brittany Markert nasceu em 1987 na Califórnia, formou-se em Matemática pela Universidade de Santa Clara e foi modelo antes de tornar-se fotógrafa, após uma viagem de trabalho na China, cujo contexto despertou a consciência que aquela indumentária que a modelava, diante do espelho, não a representava. Migrou em 2012 para Nova York, onde se matriculou em um workshop tradicional de impressão em preto e branco na International Center of Photography School, por sua afinidade com fotografia P&B. Desde então, ela trabalha essencialmente com métodos analógicos. Começou com registros informais de viagens até que teve um encontro com as fotografias de Francesca Woodman e mudou sensivelmente seus conceitos sobre imagem. Seguindo sua mentora, conectou-se com seu eu teatral, utilizando a fotografia analógica como meio de libertação catártica e exploração de si mesma. Ela também guarda os negativos de suas primeiras fotos em uma caixa lacrada, datada de 2011 quando pegou pela primeira vez uma câmera 35mm.

Apaixonada pelo processo analógico, ela mantém em sua casa uma câmara escura onde exerce paciência, precisão, sentimento e intenção. Segundo a fotógrafa, cada impressão que decide mostrar é um momento único e decisivo que fala de algo maior do que a sua própria voz. Amante da matemática, ela também percebe os valores de luz e composição como uma experiência que busca solução em nuvens de caos e informações, sobretudo da própria subjetividade que distribui expressões em segmentos do nu artístico e da fotografia de gênero em cenas com objetos antigos que remetem aos anos 40 e 50 onde localizou questões femininas de maus tratos com repertórios de repressão, temas que trata na série de narrativa contínua “In Rooms” e na série “Repulsion & Desire”.

“Apesar de todas as palavras que eu nunca poderei escrever,a câmera se tornou minha caneta”
Brittany Markert
 
Autorretrato, Califórnia, 2014
Impressão de prata gelatina com base em fibra tonificada com selênio

Autorretrato, Califórnia, 2015
Impressão de prata gelatina com base em fibra tonificada com selênio

Autorretrato, Los Angeles, 2015
impressão de prata gelatina à base de fibra

Autorretrato, Nova Orleans, 2016
Impressão de prata gelatina com base em fibra tonificada com selênio

Toybox Theatre, Nova Orleans, 2017
Impressão de prata gelatina à base de fibra

Autorretrato, Nova York, 2018
Impressão de prata gelatina à base de fibra

Autorretrato, Nova Orleans, 2019
Impressão de prata gelatina à base de fibra


“A parte mais difícil da fotografia é pegar a câmera”
Brittany Markert