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domingo, 14 de julho de 2013

A janela indiscreta de Jeanloup Sieff

julho 14, 2013 | por Natália Nunes

Jeanloup Sieff, Par un jour pluvieux, Paris, 1975

Uma das vertentes mais prolíficas da obra do francês Jeanloup Sieff é a dedicada à nudez feminina. O fotógrafo explorou através de imagens em preto e branco a simetria de corpos harmoniosos em linhas e formas. 

Os apreciadores do trabalho de Sieff, contudo, não deixarão de notar o volume de imagens devotadas aos glúteos; dos fotógrafos mundialmente reconhecidos, nenhum consagrou o bumbum feminino como tema fundamental de seu trabalho da maneira como fez Sieff. A fotografia que abre a postagem é curiosa devido ao tom inusitado e meio jocoso imbuído ao conceito, o que não era muito comum nos ensaios de Sieff.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

A cara da loucura por Richard Avedon

fevereiro 24, 2013 | por Natália Nunes



Richard Avedon, um dos grandes nomes da fotografia cuja obra é célebre pelos retratos de pessoas famosas como Marilyn Monroe, John Lennon, Andy Warhol, Martin Luther King, Kofi Annan, Dwight Eisenhower, Igor Stravinsky, Pablo Picasso e muitos outros, realizou, em 1963, um trabalho diferente do habitual.

Avedon abandonou sua característica estética de estúdio e fez uma série, intitulada Mental Institution, com os pacientes do hospital psiquiátrico East Louisiana State Hospital. Em sua visita à Instituição, ele retratou os internos e suas condições de vida. As imagens são, ao mesmo tempo, perturbadoras e sensíveis, já que naquela época as pessoas internadas em manicômios ainda passavam por situações desumanas, o foco das internações não era o tratamento e a reabilitação mas o isolamento social da loucura. 

É notável nesse trabalho que Avedon não procurou seguir sua costumeira linha com retratos, que, em geral, mostram pessoas desapegadas de qualquer cenário e contexto, transmitindo uma atmosfera atemporal, entretanto, nessa série, ele situa e inclui dentro do contexto no qual vivem os pacientes, todos anônimos em suas fotografias. Essas pessoas, que sequer têm nomes, são mais do que o retrato da loucura, elas dão cara a uma denúncia silenciosa realizada pelo fotógrafo, que expõe as condições com as quais esses desviantes sociais são tratados.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Polaroid na Moda

dezembro 23, 2012 | por Natália Nunes

Paolo Roversi, autorretrato

Em uma entrevista sobre o início de sua carreira, Paolo Roversi fez um comentário sobre algo que o fotógrafo Lawrence Sackmann disse quando Roversi trabalhou como seu assistente:
"Sackmann era muito difícil. A maioria dos assistentes durava apenas uma semana e desistia. Mas foi ele quem me ensinou tudo o que eu precisava saber para me tornar um fotógrafo profissional. Sackmann me ensinou sobre criatividade. Ele estava sempre tentando coisas novas mesmo quando usava a mesma câmera e o mesmo flash. Ele tinha um jeito quase militar para preparar as coisas para uma fotografia. Mas ele sempre dizia ' seu tripé e sua câmera devem estar bem fixados mas seus olhos e sua mente devem estar livres.'"
Desde a década de 80 que um dos mais inconvencionais e autorais fotógrafos de moda usa uma câmera Polaroid, sua justificativa para a escolha é o tamanho da câmera, bem compacta, e a paleta de cores e o contraste que o filme proporciona. Mas, no fim, como um grande mestre, ele conclui:
"Eu não tenho complexo sobre tentar novas coisas porque, no final das contas, estamos falando de novas técnicas. Tudo é uma questão de luz. Eu não me incomodaria se não houvesse mais Polaroid porque eu sempre posso encontrar uma maneira para contar a minha história."
(Fontes: Wikipédia e Dapper Dan)

domingo, 25 de novembro de 2012

O fotógrafo que desejou suas modelos

novembro 25, 2012 | por Natália Nunes

Raquel Welch, Los Angeles, 1970

"Eu vi, dormi e fotografei mais mulheres bonitas do que você já teve jantares quentes.

A frase acima (em tradução livre) foi dita pelo fotógrafo britânico Terry O'Neill, logo no início de uma entrevista que concedida em abril desse ano para o jornal The Telegraph. Ele, que fotografou as grandes beldades do cinema como Elizabeth Taylor, Marilyn Monroe, Audrey Hepburn, Ava Gardner e Brigitte Bardot garante, entretanto, que não se envolveu com as estrelas que fotografou, embora sensualidade e certo jogo de sedução modelo-fotógrafo seja marca registrada de seus retratos femininos.

Terry, que foi casado com a atriz Faye Dunaway, diz que fotografa apenas mulheres que lhe despertem  fantasias, razão pela qual não fotografa as atrizes da atualidade, segundo ele há uma espécie de suavidade generalizada nos rostos das mulheres e dos homens de Hollywood hoje em dia, o que os torna, em sua opinião, pouco desejáveis. Aos 73 anos, O'Neill raramente aceita trabalhos e se dispõe a fotografar apenas "amigos".

Já no final da entrevista, ele faz outro comentário interessante:
Sabe o que sempre me surpreendeu? Nenhuma dessas mulheres lindas que eu fotografei se achavam bonitas. Ava não se achava. Marilyn também não. Nem Michelle Pfeiffer. Quanto desperdício. (Tradução Livre)
A entrevista completa de Terry O'Neill pode ser lida na página do jornal The Telegraph.

domingo, 18 de novembro de 2012

Dalí e a fotografia surrealista

novembro 18, 2012 | por Natália Nunes

In Voluptas Mors

O inconfundível Salvador Dalí aventurou-se por diversos campos dentro da vertente surrealista: poesia, cinema, escultura, fotografia, e reconhecidamente a pintura.

Na década de 40, no auge do movimento surrealista, Dalí, em colaboração com o fotógrafo letão-americano Phillipe Halsman, desenvolveu um trabalho fotográfico no estilo. As fotos foram obtidas na base dos erros e dos acertos porque não haviam truques de montagens refinados, foi preciso encenação, repetição e muita paciência para que a dupla atingisse resultados.

A foto que abre a postagem, In Voluptas Mors, mostra Dalí com seu olhar alucinado à esquerda de um grupo de mulheres cujos corpos nus compõem uma caveira sobre um fundo negro; a imagem mistura elementos eróticos, macabros, mórbidos em uma mesma cena. Outras fotos de Dalí que ficaram conhecidas são Dalí atómico e Midsummer Night's Mare.

Entretanto, a iniciativa de Dalí e Halsman não foi inédita, outros fotógrafos como Man Ray e Dora Maar também desenvolveram na mesma época consistentes projetos fotográficos surrealistas.

domingo, 28 de outubro de 2012

O riso importa

outubro 28, 2012 | por Natália Nunes

Jonah Hill, Paul Rudd, Seth Rogen e Jason Segel, Vanity Fair, 2009

Tom Ford, Keira Knightley e Scarlett Johansson, Vanity Fair, 2006

A nova geração de jovens comediantes de Hollywood foi fotografa em 2009 por Annie Leibovitz para a Vanity Fair; a trupe fez uma paródia de um famoso ensaio de Leibovitz com Scarlett Johansson, Tom Ford, Keira Knightley realizado em 2006 para a mesma revista. A foto mostra as atrizes aparentemente nuas, e o derrière de Johansson bem à mostra. A imagem-tributo dos comediantes abre uma matéria que fala sobre os novos astros do gênero.

A matéria da Vanity Fair, "Laughing Matter: Comedy's New Legends", conta com diversas fotos de Annie Leibovitz, que mostrou os comediantes travestidos de personagens que eles admiram, como por exemplo: Russell Brand de Chaplin, Seth Rogen de Frida Kahlo e etc.

domingo, 14 de outubro de 2012

Elefante na moda

outubro 14, 2012 | por Natália Nunes

Daryl Hannah por Michel Comte Michel, Vogue, 1996 

O fotógrafo suíço Michel Comte colocou literalmente um elefante dentro da sala para fotografar a atriz Daryl Hannah para a Vogue italiana em 96. É possível encontrar uma variação da foto acima, na qual a tromba do modelo-paquiderme está abaixada, nota-se que há também certa diferença na luz e no enquadramento entre as duas imagens.

Pode-se dizer que, depois de Richard Avedon, entretanto, qualquer tema com elefantes e moda, remete a sua clássica foto "Dovima com os elefantes" de 1955.

domingo, 7 de outubro de 2012

Bruce Davidson e a fotografia engajada

outubro 07, 2012 | por Natália Nunes


O fotógrafo americano Bruce Davidson "tem produzido por mais de meio século um trabalho celebrado por sua dimensão social, política e poética. Humanidade é o coração de sua obra."

Na década de 60, Davidson acompanhou a luta pelos Direitos Civis de um grupo de estudantes que ficou conhecido como "Freedom Riders". O alvo dos jovens organizados pelo "Congress of Racial Equality" (CORE) era ir para New Orleans com a intenção de protestarem contra as leis de segregação racial. Porém, em duas tentativas de viagem, o ônibus em que estavam sofreu violentos ataques. 

Em resposta à forte oposição, diversos estudantes e ativistas ao redor do país mobilizaram-se para terminar o que o CORE começou e uma nova viagem foi marcada, com saída de Montgomery, Alabama, para Jackson, Mississipi. Bruce Davidson estava nesse ônibus:

"Eu nunca havia tido medo de nada. Mas eu sabia que algo horrível estava acontecendo. Eu sabia que era perigoso estar naquele ônibus."

Do lado de fora, forçada pelo governo, a Guarda Nacional fazia a escolta perante uma multidão iracunda. Dentro do ônibus, os passageiros cantavam tensos, afinal de contas, a proteção estava sendo feita por guardas sulistas. Davidson relatou que ninguém se sentia seguro, ele disse: "qualquer um poderia facilmente ter sido baleado"; "eu me dei conta de como os viajantes foram corajosos". 


Ao sair do ônibus, o grupo foi preso, acusado de incitar tumulto e desobedecer à lei. Eles foram os primeiros de 400 jovens que fariam o mesmo trajeto e o mesmo tipo de protesto pacífico para depois serem lançados na prisão de segurança máxima. Esse evento marcou Davidson profundamente, o que o levou a acompanhar o movimento por quatro anos:

"Sensibilizou-me para algo, algo que precisa ser registrado, algo que eu preciso testemunhar. (...) Me fez capaz de enxergar a America de uma maneira que eu nunca tinha visto antes."

A compilação desse trabalho de quatro anos resultou em um livro de 144 páginas chamado "Time of Change: Civil Rights Photographs, 1961-1965".



Observação: as citações das falas de Bruce Davidson são traduções livres.
Mais imagens da Série "Time of Change". Aqui, fotos do início da marcha e mais fotos diversas. 

domingo, 23 de setembro de 2012

A dama em vermelho

setembro 23, 2012 | por Natália Nunes

Suzy Parker, fotografia de Milton H. Greene para Life Magazine, 1952

A atriz e supermodelo Suzy Parker foi capa da revista Life em 1952 trajando um elegante e voluptuoso vestido vermelho confeccionado por Norman Norell, famoso designer de roupas de luxo para as estrelas do cinema mudo e da Broadway.

O vermelho, tradicionalmente conhecido como a cor da paixão, do desejo, muito usado pelas mulheres em momentos de conquista amorosa como recurso de sedução, na foto, apesar de todo o apelo cor, a postura da modelo, frágil e esquiva, parece delicadamente subverter o propósito do tom rubro, contradizendo a concupiscência de uma mulher vestida com vermelho. As luvas brancas, que produzem um grande contraste entre as cores, podem ainda, metaforicamente, apontar para a suavidade e pureza dessa mulher embaixo da roupa vermelha. 

domingo, 12 de agosto de 2012

Dia dos pais (e filhos)

agosto 12, 2012 | por Natália Nunes


Sonia Sieff, 1985
Fotografada aos 5 anos por seu pai, Jean Loup Sieff

Jean Loup Sieff foi um fotógrafo de moda, também desenvolveu um trabalho interessante com retratos, incluindo fotos de estrelas do cinema, além da vertente que lhe foi profícua, e talvez a que tenha sido mais autoral, de fotos eróticas e de nu. Sua filha, Sonia, também se tornou fotógrafa de moda, nota-se claramente em seu trabalho a marca da referência da obra de seu pai, que ela acompanhou - e participou - desde sempre.

Para o dia dos pais, uma homenagem à relação entre pais e filhos, relação que é o verdadeiro legado de um pai, o verdadeiro presente de um filho, e que é - e deve ser - cultivada todos os dias.

domingo, 29 de julho de 2012

Suzy Parker, a primeira supermodelo

julho 29, 2012 | por Natália Nunes

Coco Chanel e Suzy Parker, fotografia de Richard Avedon, 1959
O termo supermodel no mundo da moda, hoje empregado com tamanha facilidade, já foi um título extremamente significativo em seus primórdios, havia uma real hierarquia de valorização das modelos e para que alguma fosse considerada e chamada de supermodelo, alguns critérios tinham que ser preenchidos - critérios nem sempre precisos, claro. 

Suzy Parker foi a primeira mulher a legitimar o título, por isso, para muitos, ela é a primeira supermodel. Além de bela, ela conseguiu feitos sem precedentes: foi a primeira modelo a ganhar 200 dólares por hora e 100.000 dólares por ano, além de ser a única para quem os Beatles fizeram uma música (embora não tenha sido lançada). Parker também foi o rosto da grife de Coco Chanel, de quem tornou-se amiga íntima. Ela fotografou para as maiores revistas e mais famosas marcas, como Vogue, Elle, Life, Revlon e etc e estampou mais de 70 capas de revista ao redor do mundo. Foi fotografada pelos grandes nomes de seu tempo:  Irving Penn, Horst P. Horst, John Rawlings - e tornou-se a musa de Richard Avedon, ainda jovem na época. Aos 61 anos, ela disse em uma entrevista: o único prazer que eu tive como modelo foi trabalhar com Dick Avedon.

domingo, 8 de julho de 2012

Jack Nicholson cheio de dedos

julho 08, 2012 | por Natália Nunes



Jack Nicholson é um mestre das caras e bocas, o que fez vários de seus personagens no cinema figuras caricatas. E, claro, quando ele resolve bancar o modelo, essa extrema facilidade em modular suas expressões, geralmente de maneira lúdica, exagerada e dramática resulta em retratos interessantíssimos.

Acima, ele encara as lentes de Cleo Sullivan, com um ar que lhe é típico e que nunca sabemos se é de tédio, deboche, impaciência, desdém ou um pouco de tudo isso ou apenas encenação. As mãos dos manequins podem remeter ao filme "Melhor É Impossível" (As Good as It Gets, 1997, James L. Brooks), no sentido de sugerirem uma pessoa cheia de "não me toques" ou "cheia de dedos", por exemplo. Vale lembrar que Nicholson recebeu o Oscar de Melhor Ator por esse filme.

domingo, 17 de junho de 2012

Natalie Portman por Inez van Lamsweerde e Vinoodh Matadin

junho 17, 2012 | por Natália Nunes


Há poucos dias, encontrei esse retrato da Natalie Portman e fiquei fascinada instantaneamente. Na ocasião em que vi a foto eu desconhecia seus autores, o duo de fotógrafos holandeses, Inez van Lamsweerde e Vinoodh Matadin, o que significa que eu não tinha nenhuma referência prévia sobre o trabalho de quem estava por trás da foto. Eu havia apenas me encantado pela imagem.

Claro, encantei-me porque é uma foto da Natalie Portman, em primeiro lugar. Além de belíssima, ela é intensamente expressiva, seja diante de que câmera for. Depois, a aura da imagem exerceu uma atração irresistível ao meu olhar e a minha imaginação: o branco pálido da pele, o capuz sobre a cabeça, que pode sugestionar um manto, o olhar estático, suave, incólume, ao mesmo tempo frágil e entregue confeccionaram, na minha fantasia, uma atmosfera beatífica em torno de Portman, que parece receber a benção, de uma mão anônima que vem do alto e que, ao mesmo tempo que repousa, pressiona e perturba, a sagrada mão do Deus, sentida apenas pelos devotos. 

Portman parece uma devota rendida, quase hipnotizada, sob a mão do seu Senhor - e essa é apenas uma das interpretações que se pode fazer da imagem, que mais parece - e é - uma cena protagonizada pela atriz.

domingo, 13 de maio de 2012

Kate Moss por Mert Alas & Marcus Piggott

maio 13, 2012 | por Natália Nunes

Kate Moss por Mert Alas & Marcus Piggott para a Love Magazine, 2010

A dupla de fotógrafos Mert Alas & Marcus Piggott é famosa no mundo da moda por criações glamurosas, pelo gosto em retratar mulheres bancando divas poderosas, sempre bem maquiadas e impecáveis. Nota-se no trabalho deles um flerte com o fetichismo através dos acessórios, composições, temáticas escolhidas e nas posturas das modelos.

Em 2010, em um ensaio para a terceira edição da Love Magazine, eles fotografaram um time de supermodelos nuas: Kate Moss, Naomi Campbell, Lara Stone, Daria Werbowy, Natalia Vodianova, Amber Valletta, Kristen McMenamy, e Jeneil. A foto que abre a postagem é uma das mais provocantes da série, que gerou alvoroço e uma grande discussão na mídia sobre a nudez na fotografia de moda: é pornografia ou arte? O debate, apesar de não se encerrar com uma resposta, propõe uma reflexão interessante.

A foto da Kate Moss é um exemplo da influência da cultura fetichista nas propostas de Mert & Marcus, o cinturão estilizado, cuja função (aparente) é a de dar destaque à região genital, foge da proposta de um cinto comum, ele atrai o olhar de imediato e já deixa clara a sua função sexual, o que resulta em uma  erogenização do acessório, provavelmente antes mesmo do corpo, apesar dele estar nu, e acaba ele erogenizando o corpo (e não o contrário) de uma forma estranha, inconvencional. Associado ao cinturão, a postura da modelo contribui para a transmissão de uma idéia de dominação, de controle, outro elemento do mundo dos fetiches.

domingo, 8 de abril de 2012

Heaven to Hell, a Pietá de David LaChapelle

abril 08, 2012 | por Natália Nunes



A Pietá é a cena de morte mais representada no mundo da arte, o tema de Maria segurando o corpo morto de Jesus depois da crucificação foi representado por diversos artistas como El Greco e van Gogh, mas, sem dúvida, a pietà mais famosa é a esculpida em mármore por Michelangelo Buonarroti em 1499, chamada de Pietà do Vaticano.

Em setembro de 2007, o fotógrafo David LaChapelle, em parceria com sua amiga e viúva de Kurt Cobain, Courtney Love, fez a sua versão da pietà. A imagem foi muito criticada, o que é de praxe no trabalho de LaChapelle, porque os fãs do falecido líder do Nirvana acharam que Courtney estava usando a morte do marido para se promover. Polêmicas à parte, o fotógrafo garante que Courtney e ele não combinaram que o Jesus da cena se pareceria com Kurt, o figurante era o namorado de David na época. Para quem tiver curiosidade sobre como foi o processo de criação da imagem, indico a leitura da entrevista de LaChapelle que está em seu My Space. Também vale a pena conferir o vídeo do making of.

Resolvi colocar essa foto, embora muito conhecida, em homenagem ao Kurt Cobain, já que no dia 5 de abril fizeram 18 anos desde a sua morte, e também por causa da Páscoa: o feriado celebrado pelos cristãos marca, na Sexta-feira da Paixão a morte de Jesus, enquanto que o Domingo de Páscoa, hoje, dia 8 de abril, simboliza a ressurreição do Messias.

domingo, 11 de março de 2012

Balthus e Setsuko por Duane Michals

março 11, 2012 | por Natália Nunes

Balthus Klossowsk e sua esposa, Setsuko, por Duane Michals, 1995.
Duane Michals influenciou diversas gerações de fotógrafos com sua originalidade, sobretudo ao introduzir, nos idos da década de 60, as séries de imagens que em sequência contavam micro-histórias. Mas, provavelmente o mais peculiar de seu trabalho sejam os pequenos textos que ele fazia à mão nos cantos das suas fotografias, notas reflexivas, filosóficas, comentários que incluíam o que não era visto na imagem. 

Ao se tomar conhecimento dessa tendência às anotações, esse registro do pintor franco-polonês Balthus, e da sua esposa ganha ainda mais força. Michals, ao fotografar celebridades, geralmente para revistas de moda e entretenimento como Vogue e Esquire, apenas registrava os nomes, sem maiores observações. Porém, apesar de saber disso, diante dessa imagem tão tocante, a impressão que se tem é a de que ele omitiu-se, de que preferiu calar-se diante do que a imagem diz. De que sim, ela é capaz de falar por si.

A cena evoca a dúvida: será que Balthus está doente? O roupão, a face parcialmente vista, e, sobretudo, a  idade avançada, são motivos que fazem o público suspeitar que o pintor possa estar com a saúde comprometida. Portanto, sua esposa estaria ao seu lado como cuidadora caridosa, entretanto, o semblante dela contrasta profundamente com essa expectativa. A face de Setsuko é serena e cúmplice, não demonstra pesar ou lamento algum. Ela não transparece ser a cuidadora de um velho moribundo, mas a companheira de um homem que está chegando ao final de seus dias, e ambos estão tranquilos. O espelho que ela usa para refletir o rosto encovado do seu companheiro olha o seu, eles se miram, se admiram. A imagem é comovente  porque registra além do momento, capta o clima de cumplicidade e amor que leva uma vida inteira para ser solidificado, quando o encontro dos olhares é suficiente para comunicar, compreender e preencher todas as coisas. 

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Nos bastidores do cinema com Brigitte Lacombe

fevereiro 26, 2012 | por Natália Nunes

Sacha Baron Cohen e Martin Scorsese no set de "A Invenção de Hugo Cabret", Londres, Inglaterra, 2010

A fotógrafa francesa Brigitte Lacombe faz fotos para editorias, propagandas, faz retratos e fotos de viagens, entretanto, o renome do seu trabalho vem dos registros que ela faz de bastidores e set's de filmagem. O mundo de Lacombe é o cinema, embora fique atrás de uma câmera diferente.

Ela já trabalhou em parceria com diretores como Martin Scorsese, Sam Mendes, Michael Haneke, Quentin Tarantino e Spike Jonze. 

Como hoje, 26 de fevereiro, acontecerá a tradicional cerimônia de entrega do Oscar 2012, pensei em fazer uma pequena homenagem ao universo cinematográfico ao prestigiar o trabalho de Brigitte Lacombe, que com habilidade e sutileza consegue com que fotografia e cinema tornem-se uma só arte. 

A propósito, ela fotografou no set de filmes que estão na disputa por estatuetas no Oscar esse ano: "A Dama de Ferro" de Phyllida Lloyd, "A Minha Semana Com Marilyn" de Simon Curtis, e "A Invenção de Hugo Cabret", cuja foto abre a postagem.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

A nudez submersa de Neil Craver

fevereiro 19, 2012 | por Natália Nunes


Na sua página pessoal, Neil Craver descreve-se curiosamente como um "condutor criativo de objetos", e polivalente, dedica-se à fotografia, à pintura e à escultura. 

A vertente fotográfica é a mais prestigiada e divulgada do seu trabalho, graças, sem dúvida, à sua belíssima série subaquática. As fotos, sob o título de Omni-Phantasmic, são, na verdade, um sólido projeto autoral em andamento e contam, inclusive, com um site próprio

Para quem tiver interesse, recomendo a leitura do Project Statement no site, particularmente, nunca vi um projeto tão bem delineado, além disso, o tema, tão bem descrito, é fascinante - claro, para quem se interessa pelas vias do inconsciente e pela linguagem simbólica.

As imagens de Craver têm uma beleza hipnótica, de canto de sereia. Os corpos, sempre femininos, sempre desnudos, causam dúvida: mergulham ou afogam-se? Não há resposta. Vida e morte se assemelham, submersas.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Os cadáveres de Sally Mann

fevereiro 12, 2012 | por Natália Nunes


What Remains é o quinto livro da carreira da fotógrafa americana Sally Mann. Publicado em 2003 e dividido em cinco seções, as fotografias são de cadáveres - com exceção do último capítulo, que é parte de um estudo de closes dos rostos dos seus três filhos.

A foto que selecionei para a postagem faz parte da segunda seção do livro e também pode ser encontrada no site de Sally Mann dentro do set Body Farm. As imagens são impactantes. A que escolhi, em especial, me chamou atenção pelas texturas, pela luminosidade e, sobretudo, pela maneira como Sally Mann conseguiu captar o corpo se fundindo ao solo, formando um quadro harmonioso, suave, natural.

Em uma entrevista na qual comenta esse projeto no terreno da University of Tennessee Anthropological Research Facility, mais conhecido como Body Farm, Sally Mann ressalta que não teve o propósito de "estetizar" os cadáveres e que quis respeitá-los.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

A senhora indignada de Robert Doisneau

fevereiro 05, 2012 | por Natália Nunes

La Dame Indignée (A senhora indignada), 1948

Embora a imagem mais famosa de Robert Doisneau seja a Kiss by the Hotel de Ville”, conhecida simplesmente como “The Kiss” (O beijo), sua grande obra é repleta de muitos outros registros emblemáticos.

Em 1948, a convite da revista LIFE, Doisneau realizou uma divertida série de retratos de transeuntes intitulada “Un Regard Oblique” (Um Olhar Oblíquo). O objetivo do ensaio era documentar a expressão das pessoas que paravam para olhar a vitrine de uma galeria de arte em uma das ruas de Paris - o inusitado da situação estava no quadro de nu feminino, considerado vulgar para a época.

Com a câmera escondida em uma cadeira antiga em exibição, Doisneau flagrou momentos divertidíssimos e inusitados. A foto que mais gosto da série não é a que ficou mais conhecida, mas é a única que ganhou um título especial, “La Dame Indignée” (A senhora indignada).

A espontaneidade captada na série “Um Olhar Oblíquo” permeia todo o trabalho de Robert Doisneau, cujo interesse sempre foi retratar pessoas comuns em situações comuns, o que fez com imensa genialidade.